20 de Novembro: somos todos iguais?
Escrito por Psicóloga Natália Aparecida da Silva CRP 06/144439
Publicado em 16 Nov, 2020
O Dia da Consciência Negra se refere a data da morte de Zumbi, o líder do Quilombo de Palmares, o maior Quilombo que existiu no Brasil e símbolo de resistência na luta contra a escravidão.
O principal objetivo desta data é despertar a sociedade para a consciência crítica sobre a escravidão e seus resquícios para a população preta, e assim, debater o racismo estrutural e a inclusão desta população na sociedade pós escravidão, até porque, mesmo 130 anos após abolição, as pessoas pretas ainda sofrem com a desigualdade racial e social advinda deste cenário.
O dia 20 de Novembro é um dia para questionarmos privilégios, desigualdades, injustiças e, claro, pensarmos ações práticas e incisivas na luta contra o racismo estrutural. E para quem ainda reproduz falas como “somos todos iguais”, “é mimimi”, “negros são muito vitimistas”, trazemos alguns dados de fontes confiáveis e acessíveis para mostrar que em muitos aspectos, a população preta ainda está em desvantagem em relação a não-preta, a exemplo disso:
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A população negra do país é majoritária nas classes sociais econômicas mais baixas, devido a estereótipos e dificuldades de acesso à educação. A Síntese de Indicadores Sociais mostrou, em 2018, o desemprego de 14,7% da população preta contra 10% da população branca, revelando, também, que pretos e pardos são maioria em setores com remuneração mais baixa;
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A população negra também é a que mais sofre com a violência no Brasil. De acordo com o Atlas da Violência 2020, entre 2008 e 2018, o número de homicídios de pessoas negras no país aumentou de 34 para 37,8 por 100.000 habitantes. Na mesma comparação, os homicídios entre não negros caiu de 15,9 para 13,9;
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O acesso das pessoas pretas aos serviços de saúde mental também tem sido um fator relacionado à exclusão social. De acordo com o Ministério da Saúde, jovens negros do sexo masculino de 10 e 29 anos são os que possuem 45% mais chances que os não negros de morrer por suicídio, relacionado ao sofrimento psíquico causado pelo racismo estrutural;
Bom, falando em ações práticas e incisivas, o Grupo Reinserir nasce como uma alternativa no combate ao racismo estrutural; atendendo majoritariamente a população preta em situação de vulnerabilidade social a valores acessíveis, refletindo e entendendo o tamanho da dívida histórica que temos com esta população.
Além disto, acreditamos na importância e potência destas pessoas estarem inseridas em equipamentos de saúde mental que sejam humanizados, acessíveis e que considerem as violências sofridas por estas pessoas que vão atravessar e marcar suas subjetividades e se instalar em nossos divãs - é verdade, estamos no ano de 2020 e pessoas temem sair de casa por medo de sofrer violência pelo simples fato de existir enquanto pessoa preta.
A gente escuta isso todo santo dia. Não é mimimi. Não é brincadeira.
Aqui deste lado, entendemos que não apenas é necessário superar tal opressão nas relações cotidianas e/ou dentro do setting terapêutico, mas também interferir nas decisões políticas acerca da temática. Logo, é papel (também) ds psicologues confrontar preconceitos e discriminações e ser irredutível na tarefa de fazer da sua profissão uma ferramenta de defesa dos sujeitos que sofrem de tais violências.
E você? Como tem contribuído na luta contra o racismo estrutural?
Créditos da foto: @daniel.arroyo.photo