Perguntas frequentes

Como podemos te ajudar? O Grupo Reinserir preparou uma área de perguntas frequentes onde você pode tirar todas as suas dúvidas sobre os nossos serviços e proposta de atuação. Confira!

É comum recebermos em nossas redes sociais e/ou e-mail dúvidas referentes aos nossos serviços, principalmente ao serviço de psicoterapia. O valor das sessões, abordagens utilizadas nos atendimentos, entre outras, são perguntas frequentes. Além disto, muitas pessoas possuem curiosidade em saber como o projeto começou e se mantém. Por conta disto e de todo o histórico de perguntas já nos feitas, preparamos esta área de perguntas frequentes para otimizar o nosso contato!

"E se eu não pagar o meu psicólogo?"

Grupo Reinserir

Acabamos de sair de uma pandemia que deixou fortes sequelas em todos nós. Não apenas psicológicas e físicas, mas também financeiras. Nestes momentos a primeira coisa que nos vem a cabeça é: cortar gastos.

Interromper nosso processo terapêutico as vezes se torna a única saída por não termos mais condições de paga-lo. E está tudo bem, só nós sabemos onde nosso calo aperta, certo?

Muitas vezes, quando não temos condições de pagar algo, nos vemos diante do seguinte dilema: pagar e ficar sem o pouco dinheiro que tenho, ou não pagar e correr o risco de sujar meu nome? Muitas vezes nossa única saída acaba sendo a segunda opção.

Se este dilema ja passou pela sua cabeça durante seu processo terapêutico, seja por dificuldades financeiras, identificação ou qualquer outro motivo, convidamos você a seguinte reflexão:

Seu terapêuta, aquele que te atendeu e te ajudou com suas questões internas e caminhou contigo até onde pôde, é autônomo. Uma sessão que ele não recebe pode ser a conta de luz que ele deixa de pagar ou a alimentação de seu filho. injusto, não é mesmo?

O capitalismo a cada dia mais nos adoece. É injusto com você e com todos que são engolidos por ele, por isso, antes de interromper seu processo terapêutico com o profissional que te atendeu, converse com ele. Explique suas dificuldades e tentem chegar juntos a um consenso para que nenhuma das partes saia prejudicada.

Todos somos vítimas deste sistema e precisamos nos ajudar. Ainda mais agora.

Imagem: @susanocorreia

"Mas lá na Clínica eu vou só falar?"

Grupo Reinserir

Não necessariamente! O Grupo Reinserir entende que existem diversas formas do sujeito se expressar, seja através da fala, da escrita, das brincadeiras, das colagens, etc. Sabendo disto, a estrutura da Clínica Reinserir é adaptada para acolher todas estas possibilidades. Em todas as nossas salas de atendimento, existem lousas e giz para que o paciente e/ou cliente possa se expressar, organizar pensamentos e até mesmo a sua rotina, finanças, etc junto ao profissional referência. Muitos pacientes do Reinserir, se sentem à vontade para projetar na lousa poesias e desenhos de autoria própria, reflexões de artigos com temáticas abordadas em sessão e eventualmente projeções futuras. Além das lousas, por ser uma Clínica que atende crianças e adolescentes o espaço dispõe de diversos brinquedos e jogos (vide imagem), leituras de acordo com a faixa etária do paciente/cliente e notebooks para exibição de vídeos e filmes. Em uma de nossas salas, que foi apelidada carinhosamente por alguns de nossos pacientes como “a sala escritório”, encontra-se testes psicológicos (manuseados apenas por profissionais da Psicologia), revistas e jornais que também contribuem de forma significativa neste processo de se expressar e transformar. Que possamos sempre buscar maneiras para nos expressar, identificar e nomear expressões, sentimentos e emoções e se possível, compartilhar com alguém e/ou profissional que seja de confiança. A saúde mental agradece!

"Mas psicoterapeuta pode ter tatuagem?"

Grupo Reinserir

A gente entende que o corpo é a maior e mais intensa fronteira entre o que é nosso e o que é do mundo. É aquilo que simboliza e demonstra que experiências internas, externas, subjetivas e objetivas, coletivas e singulares se cruzam, atravessam, coabitam, aos mais chegados, de maneira dialética 8)

Qual a grande questão, então, de se entender que construir ou intervir no próprio corpo pode ser também uma maneira de materializar, e assim, simbolizar, aquilo que se vive, que se sente e se relaciona. 

Construir uma imagem e/ou performance que faça sentido em sua própria história pode ser o primeiro passo para poder observar e quem sabe entender os sentidos alheios. Relacionar-se com o próprio corpo, antes de deslegitimar qualquer relação de outre com o corpo outre. 

Então, sim, psicoterapeutas podem ter tatuagens. Ou qualquer outra coisa dessas que a gente bota ou tira do corpo porque se sente bem e faz sentido. 

Sobre a imagem: tatuagens da nossa responsável técnica e psicóloga Érika.

"Nossa! Vai pra terapia" ???

Grupo Reinserir

Fazer terapia não é ofensa.

É isso. Nem precisava de texto. O recado é esse, simples assim.

Mas vou trazer uma comparação aqui pra a gente pensar…

Sabe quando uma criança vai tomar injeção e geralmente a mãe ou enfermeira - alguma figura de cuidado - cobrem o rosto da criança pra que ela não veja a agulha e assim “não sinta tanto” a dor?

Então,

a gente aprende que não olhar pra aquilo que dói é um jeito válido de lidar com a dor, de sobreviver a ela.

Daí acha estranho quando surge alguém disposte a olhar pra isso, mexer, mudar. E, pasme, investir até dinheiro nesse processo.

Se a terapia é um espaço seguro pra olhar pra si, pensar e acolher e transformar aquilo que dói, por que diabos ela surge numa conversa como um “depósito” pra botar aquilo que incomoda? O nome disso é manicômio. E a terapia, aqui, é antimanicomial.

Imagem de @susanocorreia

"Preciso estar 'pronto' para começar a terapia?"

Grupo Reinserir

Primeiro mês do ano, geralmente costumamos enxergar como pontapé inicial para começos e recomeços. É muito comum também a pergunta “estou pronto?”, “será que estou pronta para iniciar a faculdade ou aquele curso?” “Será que estou pronta para procurar um novo emprego?” e com a terapia não é diferente. Mas afinal, o que é “estar pronto”?

Atrelamos muito essa percepção de estar pronto com o ter aprendido tudo antes de iniciar algo novo ou até mesmo romper com algo que não faz mais sentido. Isso nos rouba a possibilidade de descobrir. De sentir. Permita-se sentir, inclusive, a frustração, a decepção, faz parte do aprendizado. Do processo. Assim como para outras coisas, não existe fórmula pronta para a terapia. Se permitir ao processo também é abrir mão dos resultados.

Então começamos o ano com a seguinte reflexão: o que você tem deixado de viver por “não estar pronto?”

Imagem: “preciso saber que existo”. 2021 do @bis0ro

#1 Como tratar?!

Grupo Reinserir

Essa semana abrimos uma caixinha de dúvidas em nossas redes sociais e uma questão frequente sobre “como tratar” x ou y, nos chamou atenção. 

Por isso, nas próximas semanas vamos falar um pouquinho sobre adoecimento, tratamento e cura, explorando e tentando superar essa visão medicalizante que aprendemos. 

Mas o que é “medicalizante”?

A medicalização é um fenômeno sócio-histórico, cultural, que consiste em absorver questões humanas para o âmbito médico. Isto é, parâmetros de saúde e doença são construídos (geralmente baseados em valores relacionados à lógica de produção) e a partir disso determina-se o que é saúde e o que doença e por consequência, quem deve ser curado. 

Assim, cabe à medicina (e demais áreas de saber em saúde) moderna/contemporânea controlar e adequar aquilo que foge da norma produtiva.

Por isso, defendemos uma prática crítica, questionadora e reflexiva em saúde. Que rompa com o próprio “status quo” (de poder) conferido às áreas médicas. Que compreenda e lide com o sofrimento humano em sua dimensão mais profunda e completa, e não de maneira meramente adaptativa. 

Sobre a imagem: “A coluna partida” pintado em 1944 por Frida Kahlo. 

#2 O que é adoecimento?

Grupo Reinserir

Para a OMS, saúde é um estado de bem estar físico, mental, emocional, espiritual etc. Em uma perspectiva crítica, podemos dizer que uma pessoa saudável é aquela que tem os acessos necessários para suprir suas necessidades, a partir do desenvolvimento humano obtido em cada tempo histórico. 

Geralmente, o adjetivo de doente é atribuído a quem deixa de corresponder com as necessidades produtivas de sua vida. No geral, a doença é uma gripe forte, uma lesão grave ou um quadro deprimido que sejam suficientes para afastar esse sujeito de seu posto de trabalho.

MAS 

E se a gente começar a entender adoecimento como um estado ou processo de sofrimento humano? Isto é, um momento ou fase de fragilidade em que essa pessoa precisa de maiores cuidados para dar conta de sua existência. E este cuidado, obviamente, demanda outras relações humanas e acesso às tecnologias em saúde já desenvolvidas pela humanidade (como exames, terapias etc). 

Sobre a imagem: “O Veado Ferido, O Veadinho ou Eu Sou Um Pobre Veadinho” pintado em 1946 por Frida Kahlo.

#3 O que é tratamento?

Grupo Reinserir

No senso comum, e numa perspectiva médica, é o caminho ou ação para retirar alguém de uma posição de doença e torná-la saudável, produtiva. 

Será que isso é suficiente pra compreender e manejar o sofrimento humano?

Aqui a gente pensa que não. 

Encaramos o tratamento terapêutico como um lugar, tempo e espaço, para entender os comportamentos e emoções lidos como sintomas, encontrar, em cada experiência, aquilo que produz o sofrimento e aprender o que fazer com ele, como vivê-lo e quando transformá-lo. 

Tratar tem que ser conjugado em primeira pessoa pela pessoa em atendimento terapêutico, é ação, um processo ativo em psicoterapia e saúde num geral. “receber tratamento” é uma expressão que deve ficar para trás. Tratamento é relação, mão-dupla, desenvolvimento de autonomia e cuidado. 

Sim, pode parecer contraditório e complexo, mas é isso: enquanto a gente assume que as pessoas necessitam e demandam cuidados, a gente também entende que essas pessoas continuam sendo agentes ativos em suas vidas. Continuam sendo pessoas. Junto e ao mesmo tempo. 

Sobre a imagem: “As duas Fridas” pintado em 1939 por Frida Kahlo

#4 O que é cura?

Grupo Reinserir

Remissão de sintomas?

Ausência de dor e sofrimento?

Isso existe ou é só mais uma estratégia de venda?!

Tenho entendido as discussões acerca do conceito de “bem viver” como uma possível superação da ideia falaciosa de cura. 

Bem viver é o nome dado às tradições de povos originários que compreendem a existência humana em sua natureza, a partir do coletivo e para além das normativas culturais do sistema capitalista. 

Resgatar essas experiências e entendê-las hoje, em nosso tempo histórico, parece o caminho possível para construir as mudanças que precisamos. 

Muito além do retorno à normalidade ou alcance de uma suposta felicidade plena, devemos construir a transformação.

Transformar nossa relação com o outro, com o eu, com o corpo, com o mundo. A questão é também transformar o mundo. 

Sobre a imagem: “Festa no interior” pintado por Anita Malfatti

A terapia não faz mais efeito!?

Grupo Reinserir

O que você define por evolução? Melhoria continua? Ela precisa acontecer a todo e qualquer momento? Ou esse pensamento é mais uma daquelas famosas resistências que passamos durante o processo?

Da mesma forma que seu corpo precisa de um treino mais leve às vezes ou aquelas séries com alongamentos, a sua psique também. Ou você acredita que num período de 6 meses, 1 ano ela se recupera de toda uma vida com pequenos traumas sofridos e engolidos à seco? Quantas horas de terapia foram feitas? Quantas horas semanais você dedica à si e aos refrescos necessários na vida adulta? A balança da sua vida tá equilibrada? Pensa nisso com calma, olha pra você e pro seu processo. A evolução acontece em ciclos de transformação e de vez em quando ela acontece sem percebermos de forma tão explícita 🙂

Imagem: Sem Esperança - Frida Kahlo 1945

Como contribuir com o Reinserir?

Grupo Reinserir

Se você se identifica com os nossos posicionamentos, perspectiva clínica e de saúde, tem alguma possibilidade de contribuir com projetos de democratização de acessos (mesmo que pouquinho) mas não sabe muito bem o que fazer, esse post é pra você. 🚩🏳️‍🌈

Já tem um tempo, que se popularizaram na internet, as vaquinhas virtuais, ou seja, um jeito de custear coletivamente algo, que tá facinho aí no seu celular.

Por isso, pensamos em uma saída que fosse além do combinado com sua terapeuta. Esse aí continua o mesmo.

Mas, sobrou uma graninha que tá pensando em doar e não sabe pra onde? Tamo aqui ☝️ Tem vontade de investir em um projeto massa, como pessoa física ou com a sua empresa? Tamo aqui 👀 Trabalha numa empresa que procura projetos pra pensar responsabilidade social (inclusão, diversidade, saúde mental, sustentabilidade, redução de danos etc)? Tamo aqui! 🙋‍♀️

Apresenta a gente! 🗣🗣🗣

Você ajuda a contar pro mundo que o Reinserir existe e a gente consegue continuar esse trampo de transformação, cada vez maior ✊👊🤝

O link vai aqui embaixo e na bio também 😉

https://www.catarse.me/grupo_reinserir

#paratodosverem essa publicação possui texto alternativo.

Texto alternativo: fotografia da mesa de centro de um dos consultórios do Reinserir, que é um caixote verde, com álcool em gel, relógio, um baldinho de giz (para lousa), brinquedos artesanais e uma pilha de livros com temática social-política. Com uma faixa verde por cima escrito “Como contribuir com o Reinserir?”. Lembrando que, cooperando com a nossa vaquinha virtual, você também ajuda a construir nosso novo espaço acessível.

Como convencer alguém a fazer terapia?

Grupo Reinserir

“- Quantas terapeutas são necessárias pra trocar uma lâmpada? -Uma. Mas a lâmpada precisa querer ser trocada”.

A piadinha de tio do pavê é pra ilustrar que a gente: Não convence, uai.

Pode ser delicado e cuidadoso notar que o processo terapêutico poderia auxiliar alguém que é importante para nós. Mas essa noção de convencer pessoas a fazerem aquilo que achamos correto diz de uma maneira de se relacionar que por aqui, seguimos construindo críticas cada vez mais profundas. O outro deve ter seu processo e autonomia respeitados, sempre.

Mas então, como contribuir? Você já contou como seu processo tem sido importante? Os avanços e descobertas que tem feito? É importante e fundamental que todos saibam as possibilidades de um processo terapêutico. Mas a escolha de embarcar deve ser de cada um.

Deixe um cartão, envie uma publicação indicando uma terapeuta de confiança, mencione que existem grupos com o compromisso de democratizar o acesso à terapia, que existem clínicas sociais, que existem profissionais críticos capazes de conceber a singularidade de cada sujeito (ou seja, que existe Reinserir hehe).

Permita que as pessoas saibam e deixe que façam suas próprias escolhas. Esse já é o começo de um processo terapêutico.

Sobre a imagem: pintada em 1953, por Adelina Gomes, atendida pela Oficina de Terapia Ocupacional de Nise da Silveira, internada compulsoriamente aos 21 anos por quadros de “agressividade” após apaixonar-se por alguém que não era aceito por sua família (Acervo Museu do Inconsciente).

Como estabelecer limites com os familiares nas festas de fim de ano?

Grupo Reinserir

A gente aprende que o amor familiar é incondicional.
Isso quer dizer sem condições, sem limites, sem restrições.
Não te parece violento? Para a gente, parece.
Por isso, não se acanhe ao precisar comunicar seus familiares sobre seus limites ou “condições”.

Frases como:
“Eu não quero esse tipo de brincadeira comigo.”
“Você não deve falar assim comigo.”
“Pare, eu não estou gostando/achando graça.”
“Não, eu não vou/quero”

Podem ser usadas sem grandes cerimônias. Respeitar o outro não deve ser algo penoso.

E se ainda assim, depois de se comunicar, seus familiares ainda te desrespeitarem ou te agredirem, sim, você pode se retirar desse contexto. Sim, você pode manter a distância que achar necessária.

A convivência familiar faz sentido quando existe respeito mútuo, identificações e afetos satisfatórios. Do contrário, é mera formalidade moral - da qual, sim, muitas vezes somos materialmente/financeiramente dependentes e isso também não deve nos submeter a violências, mesmo que você more com seus pais, você pode comunicar seus limites a eles.

Sobre a imagem: “homem morando onde não lhe cabe mais” @susanocorreia

Como funciona a psicoterapia com crianças?

Grupo Reinserir

Como boa parte da infância: brincando. 

Jogos, bonecos, uma lousa na parede, lápis e giz espalhados  por aí, as crianças literalmente pintam o setting. Todas as ferramentas de comunicação disponíveis são importantes, pra contribuir e desenvolver essa psique potente diante de nós, que necessita de um ambiente que permita sua manifestação e crescimento.

Com o distanciamento social as estratégias se limitam às possibilidades virtuais, mas, ainda assim, é possível investir em um processo psicoterápico a depender da idade e acessos da criança.

Outra coisa importante é: sim, o processo terapêutico de uma criança esbarra e encontra sua dinâmica familiar, por isso, o contato entre terapeuta e responsáveis costuma ser mais comum e frequente. A ponte com a escola e outros ambientes da criança também é possível. 

Entender o que se passa nessa existência, vendo ali um sujeito de desejos e direitos, proporcionando os dispositivos necessários para que se desenvolva uma comunicação eficaz com o mundo a sua volta e mais, que se aprenda a atuar ativamente nesse mundo. Crianças têm muito a falar e devemos ouvir. 

Sobre a imagem: “Meninos brincando” pintado em 1955 por Cândido Portinari

Como funciona a psicoterapia online?

Grupo Reinserir

Com delay :P

Brincadeiras à parte, a psicoterapia online tem sido uma importante ferramenta em saúde mental, principalmente em tempos de “isolamento” social.

Pra isso, basta um ambiente privado, e o smartphone, ou computador. 

Mesmo através dos pixels é possível construir uma relação terapêutica.

As sessões são feitas por chamada de vídeo, mensagens de texto, ou ligações, através de um app seguro, acordado previamente. 

Uma conexão de rede estável e fones de ouvido podem tornar esse processo mais fácil. 

E bom, tudo bem se vez ou outra o latido do cachorro ou a voz da mãe ecoarem ao fundo; a clínica é construída a partir da realidade e por pessoas reais.

E vocês, o que tem achado da experiência online?

Na imagem: arte da @raw_speech

Como funciona a terapia de casal? (Ou focada em relações afetivas-sexuais)

Grupo Reinserir

Todo processo terapêutico deve ser um lugar seguro de fala, escuta e compartilhamentos. Em casal não é diferente.

Esse modelo de terapia pode ser alternativa quando as questões, muitas vezes cotidianas, da relação, parecem não serem ouvidas o suficiente apenas por aqueles que as vivem. A mediação de uma terapeuta pode contribuir pra melhora da comunicação.

É importante lembrar da importância dos processos terapêuticos individuais das pessoas envolvidas nessas relações. Tendo em vista que o sujeito é ainda mais complexo que o romance que o rodeia, a vida a dois (ou mais) não supre todas as demandas de uma existência e por isso a terapia que objetiva pensar uma determinada relação também não contempla todas as demandas dos sujeitos. É um recorte específico, uma cena entre muitas das vidas envolvidas. Entender esse limite é indispensável para o desenvolvimento do processo.

Relacionar-se, nesta sociedade, implica em uma porção de fatores obstáculos. Os horários apertados, o cansaço, as preocupações em dar conta da manutenção da vida… meio a tudo isso é previsível desprender-se da importância de cuidar de nossas relações. De investirmos tempo de reflexão e de ação para construir relações não-violentas e não-alienadas. Quaisquer que sejam essas relações; familiares, afetivas, sexuais, amizades. Pensar sobre isso é importante, relevante e transformador.

Ressaltamos ainda que o modelo de terapia em casal não deve ser aplicável apenas para determinados modelos conservadores de relações. Isso quem escolhe são os sujeitos que se relacionam. O lugar da terapeuta é de facilitação da comunicação e não de detenção do saber sobre qual é a maneira mais adequada de se relacionar.

Sobre a imagem: “Diego y Frida”, pintada em 1944 por Frida Kahlo, retrata a relação fusionada da artista com seu companheiro. Uma relação polêmica que movimenta questionamentos e debates acerca das noções de fidelidade e lealdade.

Como pesquisar o CRP de um psicólogo?

Grupo Reinserir

Falamos que voltaríamos aqui para falar como pesquisar o CRP de psi, certo? E cá estamos.

Para exercer a profissão de psi, além da graduação, o profissional precisa realizar a sua inscrição no Conselho Regional de Psicologia (CRP) no Estado em que atua. E mantê-lo ativo. Para saber se um psi tem seu registro ativo e está habilitado a exercer a profissão, existe dentro do site do Conselho Federal Psicologia um portal de busca.

Então vamos lá: Acesse o portal http://cadastro.cfp.org.br/, coloque o nome do psi e o Estado em que atua. Clique em Busca e aparecerá o número do registro. Pronto, rápido e fácil. E, não podemos deixar de falar que o Conselho Regional de Psicologia, além de cumprir o papel institucional de fiscalização e orientação da categoria é um espaço importante de discussões para reafirmar o compromisso social da profissão, por lá é possível acessar cadernos temáticos sobre lutas históricas.

Vamos deixar também o link para acessarem esses debates tão caros para nós: https://www.crpsp.org/impresso/index?categoria=3

Imagem: arte de Arthur Bispo do Rosário

Como serão os atendimentos em tempos de pandemia?

Grupo Reinserir

Em tempos de pandemia, a prática do atendimento online tem sido um bom recurso para dar continuidade aos tratamentos psicológicos que já ocorriam presencialmente, e também para disponibilizar o serviço para novos pacientes. O trabalho da psicologia é de máxima importância neste momento, no qual há interferências advindas do desafio que é estar em isolamento social. Aqui no Reinserir contamos com uma equipe de psicólogs habilitads para atender de forma online os pacientes neste momento, onde nos encontramos em constante processo de adaptação e transformação coletiva. Nossos atendimentos estão acontecendo 100% online, pois além de acreditar nesta modalidade, também valorizamos não só a saúde mental, mas também a física de nossos pacientes e de sua rede de convivência.

Como sobreviver sem terapia no recesso!?

Grupo Reinserir

O título é em tom de piadinha mas a preocupação tem sido recorrente nas sessões.

Ao final do ano, ritual já muito bem conhecido, com os feriados de natal e ano novo, muitas coisas param temporariamente seu funcionamento. Terapeutas costumam parar também e com isso chegam as temidas 3 ou 4 semanas sem terapia.

Se esse medo te assola, você pode combinar estratégias com sua terapeuta. Escrever, ouvir música, fazer exercícios, todas essas coisas que a gente já sabe que gosta e faz bem, sabe?!

Veja, nós, trabalhadoras da saúde mental, também precisamos de uma pausa, um descanso, um tempo pra botar as ideias em ordem e seguir os atendimentos da forma mais responsável, ética e afetiva possível. Por isso, esse recesso de fim de ano é muito importante pra nós.

Avisamos cedo pra não pegar ninguém no susto, ainda temos mais umas semaninhas aí pra preparar tudo.

No mais, combine certinho com sua terapeuta quais os dias de ida e de volta, aproveite pra descansar também, se possível e, qualquer urgência, estamos a uma mensagem de distância.

Imagem: caindo em desespero, na procura do eu de @susanocorreia.

Como vocês lidam com a diversidade?

Grupo Reinserir

Nós aprendemos com, para e por ela! Entendendo que os sujeitos são infinitos em suas possibilidades, as e os psis do Reinserir adotam perspectivas teóricas e práticas que excedam o padrão de meramente adaptar pessoas à cruel lógica de produção desse sistema, que ocasiona muitos sofrimentos encontrados na clínica. Aqui as cobras ganham asas!

“Suspender o céu é ampliar o nosso horizonte existencial. É enriquecer as nossas subjetividades, que é a matéria que este tempo que nós vivemos quer consumir. Se existe uma ânsia por consumir a natureza, existe também uma por consumir subjetividades - as nossas subjetividades. Então vamos vivê-las com a liberdade que fomos capazes de inventar, não botar ela no mercado. (…) Definitivamente não somos iguais, e é maravilhoso saber que cada um de nós que está aqui é diferente do outro, como constelações. O fato de podermos compartilhar esse espaço, de estarmos juntos viajando não significa que somos iguais, significa exatamente que somos capazes de atrair uns aos outros pelas nossas diferenças, que deveriam guiar nosso roteiro de vida.”

– Ailton Krenak em “Ideias para adiar o fim do mundo” pág 32,33

Cooperativismo é sobre solidariedade

Grupo Reinserir

E solidariedade é uma prática política. É uma escolha, diante de uma percepção coletiva e democrática de mundo. É olhar o outro em si e a si no outro. Entender-se enquanto ‘um-múltiplo’.

Não por dom, ou missão espiritual, não por um dogma religioso - mas também, se te fizer sentido. Ser solidário é ser parte de algo, não ser só. Como toda prática, é intermediada por um pensar-sentir e também o constrói, de volta. É processo contínuo de interação e transformação entre si e o mundo. 

Por vezes, nos pegamos solidários àqueles que compartilham conosco os mesmos lugares de exploração e opressão, 

Com quem você se solidariza?

Quando sentiu-se alvo da solidariedade de outre? Que gosto tem?

Um cuidado ético e humanizado passa necessariamente pela solidariedade. 

“Me deste a liberdade que não tem o solitário.

Me ensinaste a acender a bondade, como o fogo.

Me deste a retidão que necessita a árvore.

Me ensinaste a ver a unidade e a diferença dos

homens.

Me fizeste ver a claridade do mundo e a

possibilidade da alegria.

Me fizeste indestrutível porque contigo não

termino em mim mesmo.” (Pablo Neruda)

#paratodosverem essa publicação possui texto alternativo

Imagem: “Família” de Tarsila do Amaral

E como o cooperativismo atravessa o Reinserir?

Grupo Reinserir

Legalmente, o Reinserir é uma empresa, com CNPJ.

Na prática, temos algumas divisões e diferenças de vínculos, que vocês podem conferir ali nos destaques. Coisas que foram se encaixando no nosso processo de construção, de forma que desse conta das demandas das chegadas e saídas e tornasse o projeto viável, apesar da ausência de um grande fluxo de investimento monetário. Como já falamos, somos um grupo de trabalhadores, psicólogos, construindo uma alternativa. Não contamos com financiamentos externos, por hora.

Além disso, a nossa principal tática para manter nossa clínica social, é a ideia de que trabalhar com valores flexíveis pode proporcionar um maior acesso à psicoterapia, para quem não pode pagar muito, e também garante que o terapeuta tenha sua força de trabalho remunerada.

Isto é, quando você topa pagar aquele valor “ideal” que sua terapeuta comunica, você não custeia apenas o seu processo mas contribui com outros tantos processos de quem não pode alcançar esses valores. Contribui também para a manutenção do projeto, com a estruturação da volta dos atendimentos presenciais e com a formação continuada des terapeutas.

Nesses quase 2 anos de pandemia, muitos atendimentos deixaram de ocorrer pelas inúmeras dificuldades econômicas que atingiram nossa população. Pra tentar manejar isso e ampliar o alcance da nossa clínica social, estamos construindo um plano de financiamento coletivo e semana que vem a gente conta com mais detalhes como vocês podem construir isso com a gente!

Sobre a imagem: “Carnaval em Madureira” de Tarsila do Amaral

#paratodosverem essa publicação possui texto alternativo

Texto alternativo: Imagem ao fundo, da obra “Carnaval em Madureira” de Tarsila do Amaral, com uma réplica da Torre Eiffel em Madeira, em meio às pessoas e casas coloridas que ilustram o tradicional bairro carioca enfeitado para a festa de Carnaval. Por cima, um quadro verde com os dizeres “E como o cooperativismo atravessa o Reinserir?”

E o retorno às atividades presenciais?

Grupo Reinserir

Por aqui, estamos organizando… novo espaço, novas pessoas…

mas por aí vocês já estão lutando, né?

E aí aparecem umas coisas estranhas, uns medos, vergonhas, angústias, as habilidades sociais parecem ter ido pro isolamento e não saído mais. 

Mas fala sério, quem, depois de 2 anos de pandemia, distanciamento, preocupação e perdas, vai voltar pra vida com a mesma facilidade de sempre?

As caretas que acostumamos fazer por baixo da máscara? Fazem parte;

A impaciência ou furor em algumas interações, fazem parte;

Estamos todes reaprendendo a nos relacionar cara a cara, tá tudo bem se você errou a linha do metrô que pegou a vida toda. 

Vai com calma, deixa teu corpo chegar a esse espaço, identificá-lo, lembrar o que é conhecido e se deparar com o novo. 

Pode ser difícil em tempos de áudio 2x. M a s, inspire pelo nariz, expire pela boca. Olhe em volta. Sem fones de ouvido pode ser mais fácil. E vamos, juntes. 

Imagem: “Sol Poente” de Tarsila do Amaral

E os valores das sessões? Por que não são divulgados?

Grupo Reinserir

O Reinserir é uma rede, um grupo de psis de diferentes formações e abordagens, com um compromisso social em comum. Por isso, cada pessoa atendida combina com sua ou seu terapeuta qual será o valor da sessão. Esse valor acordado está entre um valor sugerido, aquele “ideal”, e um valor mínimo, considerado como atendimento social, que respeita as diretrizes dos Conselhos da profissão e que assegura o custo da estrutura necessária para o atendimento.

E por que esse parâmetro de valores não é divulgado nas redes? Bem, a psicoterapia é um serviço de saúde, e saúde não é um mero produto, né? Por isso, existem regras específicas para a divulgação nas redes sociais e demais veículos de informação.

A primeira sessão é paga? Via de regra, sim. Entendemos que o vínculo e trabalho terapêutico começam desde o primeiro contato. Exceções devem ser conversadas e combinadas com cada terapeuta.

Cada profissional da psicologia reconhece o valor de seu trabalho e o custo para mantê-lo, por isso, as condições de pagamento devem seguir e respeitar cada contexto e condições.

No Artigo 38º do Código de Ética da psicologia, temos que é vedado ao profissional: “utilizar o preço do serviço como forma de propaganda” e ainda “fazer propostas de honorários que caracterizem concorrência desleal”.

O Reinserir defende a psicologia enquanto ciência e profissão, com compromisso social. E por isso não se baseia em noções meramente mercadológicas de venda de seus serviços. Aqui, se respeita o Código de Ética e as condições materiais, de quem atende e de quem é atendide, onde o setting terapêutico é construído, efetivando assim, uma perspectiva de clínica ampliada e não mercantilização da saúde, como acreditamos e construímos politicamente.

Sobre a imagem: “Aí penduro meu vestido”, pintado em 1933 por Frida Kahlo, retrata um momento em que a artista se viu solitária em meio as contradições postas pelo sistema capitalista, enquanto seu companheiro Diego Rivera vendia um painel para o Rockefeller Center.

E se eu me atrasar pra terapia?

Grupo Reinserir

Essa semana temos tópico de reunião de condomínio por aqui 🤓

Intercorrências, imprevistos, remarcações, atrasos, acontecem. Com qualquer pessoa. 

Assim que você souber da impossibilidade de estar disponível no horário agendado, avisa sua terapeuta. Esses 50 minutos na agenda podem fazer diferença pra ela ou pra outra pessoa.

Esses dias uma prima tipicamente paulistana veio resolver uma coisa aqui perto de casa, cidade pequena, e surpresa exclamou “nossa, aqui as pessoas respeitam o tempo!”. Sim, precisamos respeitar o tempo do outro. Pode ser difícil se lembrar disso nos dias corridos em que se é engolido pela grande máquina de moer gente chamada cidade, mas, precisamos lembrar. 

E, diante do atraso, confira com a terapeuta se vai dar tempo de ter 50 minutos de sessão, não pode comer os 15 minutos do próximo 😉

O atendimento online confere uma flexibilidade maior dado o menor deslocamento espacial, mas, ainda assim, não dispensa uma porção de organização e cuidado com o tempo.

Na imagem: Frida Kahlo, pintora mexicana - de olho em vocês que não respeitam o tempo do coleguinha :B

Há limites na comunicação com a terapeuta?

Grupo Reinserir

Como em toda relação, sim.

Nós acreditamos em um setting terapêutico que, sim, extrapola as paredes do consultório e hoje, com a exclusividade dos atendimentos online, dos pixels simultâneos. Mas, lembra quando falamos sobre o trabalho remoto ter transformado t-o-d-o tempo em obrigatoriamente produtivo? Pois então, muitas vezes essa mesma lógica é aplicada na expectativa de que a terapeuta esteja sempre disponível. 

No geral, por aqui nós gostamos bastante de receber memes, músicas, poemas e tantos símbolos alternativos que cabem aos processos terapêuticos de forma singular e irreverente. É massa. Continuem. 

Mas, não se chateie se a terapeuta não responder de pronto, ou só comentar na próxima sessão. Acontece. 

“Mas estou numa urgência, não posso chamar minha terapeuta?” Claro que pode, mas veja, infelizmente talvez ela esteja indisponível. Vocês podem, inclusive, durante as sessões, combinarem o que fazer nessas urgências, como manejar. 

Todas as trocas são bem vindas, respeitando os limites de cada parte.  

Sobre a imagem: Foucault tentando entender paciente que fica boladão porque a terapeuta demorou pra responder. (foto disponível em https://literariness.org/2019/04/18/the-philosophy-of-michel-foucault/)

Me sinto julgado(a) pela minha terapeuta. E agora?

Grupo Reinserir

Em um primeiro momento é importante conversar com a terapeuta e discorrer sobre essa sensação de estar sendo julgade - não se preocupe, ninguém levará para o pessoal (assim esperamos D:)

Importante destacar: quais assuntos você se sente ou se sentiu julgade? Teve algum dia específico? O que foi dito que te trouxe essa sensação de ser julgade?

É importante falar sobre isso para que ambos possam entender o que é de cada um (o que é da terapeuta e o que é do paciente) e refletir: “será que a terapeuta está mesmo me julgando?”

Pode ser que a psi precisou ser mais assertiva em algum momento e isso atravessou algum sintoma, tocando em um ponto sensível do paciente, e o mesmo entendeu como um possível julgamento.

Por isso é interessante levar essa percepção para análise, visto que a relação entre psi e paciente é uma relação entre dois seres humanos, e dessa interação podem surgir diversas questões.

Um ponto para ser reforçado: se tratando de questões raciais, de gênero, sexualidade e etc., é fundamental também que você, paciente, converse com sua rede de apoio, principalmente com pessoas pertencentes ao mesmo grupo, para que se tenha também as considerações desse grupo e um olhar diferente de quem está de fora.
Muitas vezes estamos tão envolvidos emocionalmente que fica difícil analisar a situação de forma mais objetiva, no entanto não descarte ou ignore essa sensação, converse com seu(sua) psi, com pessoas de confiança e faça uma análise crítica sobre a situação.

E lembre-se, você não é obrigade a permanecer onde não se sente confortável; você também pode escolher trocar de terapeuta (:

Imagem: “caindo em desespero, na procura do eu” de @susanocorreia

Meu diagnóstico me define?

Grupo Reinserir

Não.

Se a gente sentar juntinho e for olhar o CID e o DSM, vamos encontrar um diagnóstico pra cada um, quiçá mais de um. Isso mesmo. Todo mundo vai ter um diagnóstico. E porque??? Bem, pra indústria da “saúde” (farmacêutica, médica, cosmética, terapêutica, hospitalar etc) vender suas curas, precisa de pessoas lidas como doentes.

Isso quer dizer que meu sofrimento (que foi nomeado com determinado diagnóstico) não existe?????
Claro que não. Os sofrimentos tão aí, reais, concretos e dolorosos, inclusive produzidos por esse mesmo sistema a quem a tal indústria serve. 

Que fazer com esses diagnósticos então? 

É necessário pensar criticamente sobre a construção do seu sofrimento. Quais experiências podem ter contribuído pra isso? Como acolher e manejar esse sofrimento? 

Por vezes, o diagnóstico vira uma espécie de “quarto da bagunça” onde a gente joga todos os comportamentos e emoções que parecem um problema e a gente não sabe muito como resolver. É preciso revisitar esse quarto, fazer uma limpa, entender como cada um desses itens foi parar ali. Sim, costuma ser trabalhoso. 

Não trabalhar com diagnósticos psiquiátricos não quer dizer negligenciar um sofrimento manifesto. Pelo contrário, é sobre se importar o suficiente para entendê-lo em sua dimensão mais singular, mais latente, para além das tipografias de sintomas e códigos numéricos de catalogação. 

E aí, ficou na dúvida de algum diagnóstico específico? Manda pra a gente que a gente pensa junto na produção histórica dele 🤓

Sobre a imagem: “O homem também é fachada para si, para dentro, sem fim” de @susanocorreia 

Minha terapeuta deve me lembrar da nossa sessão?

Grupo Reinserir

Não.

Essa foi fácil :p

Brincadeiras a parte, não, ela não deve, esta é uma responsabilidade sua.

Entendemos a vida corrida, os prazos apertados e horas extras, por aqui também vivenciamos todos estes impasses, por isto é importante usar e abusar de alguns recursos que podem nos ajudar com isto.

Alexa, despertador, post-it, e até mesmo trocar com a sua terapeuta sobre a dificuldade de lembrar da sessão - também pode estar atrelado a sintomas terapêuticos.

No mais, vale a pena refletir o quanto estamos acostumados a transferir responsabilidades nossas para outres e o quão nocivo esta dinâmica se faz para todos os envolvidos.

Imagem: Salvador Dali, I O Sono, 1937

Minha terapeuta me deve respostas?

Grupo Reinserir

Não.

Há um tempo temos pensado sobre a forma que as coisas são trazidas para o ambiente terapêutico.

As queixas são jogadas pelo setting e em seguida, a pausa de quem espera uma devolutiva, quase como um receituário. Quando não, uma cobrança direta.

Isso porque o modelo biomédico impera e o encontro da terapia se confunde com uma consulta qualquer? Pode ser.

Ou porque nós sujeitos já nos conformamos à passividade exploratória a qual somos submetidos pelo sistema, pela família, pelas relações afetivas, de gênero etc? Pode ser.

A questão aqui é: entregar o seu* processo terapêutico na mão da terapeuta como se seu* caminho pudesse ser percorrido por ela, nos levanta a seguinte questão: terceirizar o próprio desejo pode ser mais fácil quando assim, vc se sente autorizade a culpar o outro. Mas, quando se abre mão da autonomia do próprio desejo, da responsabilidade de construí-lo e sustentá-lo, abre-se mão de si, da própria existência.

Estamos cansades demais para existir?

O que você espera da terapia?

.

Isso que você espera, quem vai te dar?

Imagem: “homem confortavelmente poético e melancólico" de @susanocorreia

Minha terapeuta me encaminhou, e agora?

Grupo Reinserir

Basicamente, sua terapeuta percebeu que alguma outra relação pode contribuir com seu processo. Isso vale para encaminhamentos à outras especialidades (como psiquiatras etc) mas também, quando um terapeuta nota indícios de que a relação terapêutica em questão, se esgotou ou esbarrou em algum limite. 

As relações humanas, todas, seguem fluxos contínuos de construção e transformações. A eternidade, por hora, parece não se aplicar a elas. Então, também não se aplica às relações terapêuticas/ de análise.

Você não é chata(o), não é desinteressante ou insuportável. O terapeuta não é incapaz de te atender. A relação mudou.

Se há ainda o que dizer para essa terapeuta, diga. Isso não quer dizer que não haja o que dizer a outre terapeuta. 

Podemos acolher nossos términos, lutos e transformações. 

Sobre a imagem: “mal me quero” de @susanocorreia

Minha terapeuta pode atender meus amigos?

Grupo Reinserir

Sim, ué. A sua terapeuta pode atender seu(s) amigues, contanto que não seja um problema ou questão para nenhuma das partes envolvidas. O olhar da terapeuta será para a individualidade e a vivência de cada um – afinal, são pessoas distintas. A amizade não irá interferir no acompanhamento terapêutico, mas caso você perceba que está interferindo de alguma forma, leve para a sua sessão para entender, junto com sua terapeuta, o que está acontecendo e o que pode ser feito para que todas as partes se sintam confortáveis em seus processos.

Além disso o sigilo segue da mesma forma, então se você pensa “será que minha terapeuta vai contar algo que falei aqui para meu amigo?” – não, isso não pode acontecer e se acontecer, temos um problema muito sério. A sugestão é: troque de terapeuta.

Imagem: peito estilhaçado de @susanocorreia

Não quero mais. E agora?

Grupo Reinserir

E a pauta da reunião de condomínio de hoje é: bolo na terapeuta

A gente sabe que a vida tá corrida e dá pra esquecer do horário e até de responder, quem nunca respondeu só com o coração e esqueceu de digitar, não é mesmo?!

Mas vez ou outra (às vezes bem frequente) a galera tem deixado de responder e isso dificulta todo o processo além de poder dizer um tanto sobre como temos levado nossas relações, né?!

Se você não puder mais dar continuidade ao processo terapêutico, precisar cancelar, remarcar ou só não estiver afim naquele momento, conta pra terapeuta e *tá tudo bem*

Do outro lado, tem um pessoal que talvez precise daquele horário, se organizar direitinho, todo mundo se ajuda (:

O medo de fazer uma escolha errada, te paralisa?

Grupo Reinserir

Pera aí, o que é errado? É algo que não saiu como você planejou ou saiu do seu controle? É algo pelo qual você pode receber uma punição? É algo mais genérico que simplesmente é reproduzido socialmente como errado?!

Responde aí e guarda essa informação na mão esquerda. 

Agora, essa escolha, é tipo qual sabor de sorvete você vai tomar hoje? É o curso da faculdade que você vai escolher depois de 3 anos estudando pro vestibular? É qual conta você vai pagar já que o dinheiro não dá pra todas? Dos três níveis de complexidade, qual chega mais perto da sua escolha? 

Responde essa e guarda na mão direita. 

Em última instância, a gente tem medo de morrer, sozinhes sem amor. Isso pode mesmo acontecer?

Depois de balancear essas possibilidades e conseguir olhar da maneira mais objetiva e concreta possível pra escolha que você tem que fazer, ainda parece difícil?

Se sim, você teve, ao longo da vida, a possibilidade de desenvolver essa capacidade de escolha? É fundamental ter repertório. Escolher e dar certo. Escolher e dar errado. E depois de ambas, aprender o que fazer com o saldo final. 

Olhe para as suas mãos, tem duas informações importantes aí para o seu processo de escolha. 

No mais, aprender a sustentar uma escolha e o que sobra dela pode ser um processo delicado e cheio de detalhes que dizem respeito a sua existência singular. E ainda tem a possibilidade de a gente descobrir que nem precisa escolher,

Para essas e outras descobertas, vem de zap marcar uma sessão!

Imagem: aperto no fundo do peito de @susanocorreia

O psicólogo pode revelar o que foi dito na terapia?

Grupo Reinserir

O artigo 21 do código de ética da psicologia garante sigilo às pessoas atendidas por profissionais da área. No artigo 27 vemos que este sigilo pode ser quebrado diante de casos delituosos contra a pessoa atendida ou cometidos por ela, isto é, quando existem crimes envolvidos no conteúdo trazido. Dito isso, a leitura que fazemos é crítica. Pois os processos de judicialização pouca ou nenhuma efetividade tem na vida dos sujeitos, até porque, essa mesma judicialização está a serviço de uma lógica que contrariamos. 

Entendemos que a quebra de sigilo é necessária em casos extremos, sendo norteada pela noção de “menor prejuízo”. Na prática, em casos de violência física ou sexual contra, principalmente, sujeitos mais vulneráveis. E isso implica em, por exemplo, diante do atendimento de uma criança ou sujeito em qualquer idade, que esteja passando por uma dessas situações, que a importância da denúncia seja tratada, de maneira que se respeite a autonomia e segurança da vítima. 

No demais, a se tratar de acompanhamentos como de crianças e adolescentes: não, as informações não devem ser abertas aos pais ou tutores, por curiosidade ou imposição de controle. A segurança e confiança da relação terapêutica devem ser respeitadas, do contrário, novos traumas podem se estabelecer. 

Para denúncias disque 181 (sigilo absoluto).

Para denúncias sobre quebra de sigilo por profissionais da psicologia, contate o Conselho Regional de Psicologia de seu estado.

Sobre a imagem: obra de José Alberto, paciente da Nise da Silveira.

O que devo falar em uma primeira sessão de psicoterapia?

Grupo Reinserir

Venha como está, conte o que tem te angustiado, do que você gosta, do que detesta, o que estuda ou trabalha, quantos anos você tem, se quiser, conte a história da sua vida. No que você acredita, como chegou ali, quem te falou sobre o processo psicoterápico e o que você espera dele. Para as crianças: brinquem! Esse é seu espaço, seu lugar. Uma primeira sessão pode servir pra que a relação terapêutica comece a surgir à partir de informações fundamentais, mas lembre-se: fale sobre o que quiser.

Na imagem: um mandala, obra ‘sem título’ (s.d), de Fernando Diniz, um dos atendidos pela oficina de terapia ocupacional de Nise da Silveira. Para a teoria junguiana, o mandala pode representar simbolicamente a luta pela unidade total do eu.

O que falar em uma primeira sessão de psicoterapia?

Grupo Reinserir

Como a gente nunca cansa de dizer: o que você quiser. 

Pode começar pela semana. Pela última briga com a mãe. Com aquela coisa que aconteceu na infância. Ou por isso que você pensou enquanto tomava o café da manhã de hoje. 

Não existem grandes regras. Algumas terapeutas fazem perguntas iniciais mais específicas como qual a sua idade, atividade ou onde mora mas depois, todas chegam ao ponto principal: em que a psicoterapia pode te ajudar? 

A partir daí, o GPS é você. O caminho a ser escolhido é livre e espontâneo. 

Imagem: camuflado de si, em si de @susanocorreia

O que fazer com o silêncio?

Grupo Reinserir

“Por onde eu começo?”, “O que eu falo agora?”, “É estranho ficar nesse silêncio”.

É primordial, em um processo terapêutico, que exista tempo espaço pra dizer e pra ouvir. 

Uma pausa tensa logo após um insight, diante de uma resistência ou até mesmo quando você esperava uma devolutiva depois de vomitar tudo ali, no colo da terapeuta. Nem sempre existe devolutiva. Acolher é também sobre ouvir atentamente o que é colocado ali e simplesmente observar. Pode falar mais, pode não falar, pode chorar, sentir raiva, gritar, rir de constrangimento. Por que o silêncio constrange? O que surge de proibido na sua mente quando a boca cala? Quais parâmetros produtivos você tem aplicado - até às relações - pra sentir que precisa falar intensamente o tempo todo?! 

Quando foi a última vez que você ouviu o silêncio?

Sobre a imagem: “Homem atravessando uma linha de pensamento que o atravessou” de @susanocorreia

O que fazer quando se tem uma crise de ansiedade?

Grupo Reinserir

Onde você está? É um lugar seguro? Se não for, busque o mais próximo. Se as crises forem recorrentes, pode ser funcional ter um contato de confiança para pedir ajuda, contatos relacionais seguros costumam ser boas estratégias de manejo - se você estiver com alguém em crise, respeite o espaço e demandas dessa pessoa, acolher é sempre a melhor escolha.

Não se esqueça de respirar, tente sentir seu corpo e o que ele está tentando te comunicar. Se precisar sair, saia. Se precisar entrar, entre. Beber uma água gelada ou usá-la na nuca pode ajudar também.

Lembre-se que vai passar. Dê o tempo que estiver precisando.

Vivemos diante de estímulos constantes e intensos, pode ser importante abstrair-se deles. Às vezes fechar os olhos, às vezes abri-los. Alongar o corpo ou abraçá-lo. A crise pode ser lida como uma ruptura nos nossos processos de comunicação. Um alerta, que deve ser ouvido.

Depois, você pode entender o que a trouxe e o que foi efetivo para manejá-la. Depois, não há culpa. Crises acontecem e podem ser manejadas. Depois, pode ser depois. Agora, respire. E sinta.

Importante lembrar que existem equipamentos oferecidos pelo sistema único de saúde (SUS) para também acolhimento de uma crise de ansiedade como o centro de atenção psicossocial – CAPS, unidade de pronto atendimento – UPA e se você for paciente do Reinserir, contate psi referência.

Sobre a Imagem: “Cabeça rafaelesca arrebentada” pintado em 1953 por Salvador Dalí.

O que são as clínicas-escolas?

Grupo Reinserir

Por definição, são serviços criados/administrados por universidades/faculdades/escolas de psicologia, que oferecem atendimentos psicológicos gratuitos ou a valores sociais/simbólicos. Executados por estudantes de psicologia de diferentes semestres (varia de acordo com a grade de cada instituição) que são supervisionados, em grupo, por seus professores.

Geralmente, esses serviços possuem uma etapa de triagem para identificar se “comportam” as demandas trazidas por quem é atendido. Por isso, é importante se atentar a esse primeiro contato.

É importante ressaltar, também, que as clínicas-escolas não necessariamente possuem um viés social, integrativo, ampliado ou focado no atendimento às minorias políticas. 

Foi atendido em um desses serviços e ficou com dúvidas sobre o atendimento que recebeu? Trocar uma ideia com quem te atendeu pode ser importante para o processo formativo desse profissional. Se a dúvida persistir você pode também reportar ao supervisor responsável. 

Sobre a imagem: “Criança geopolítica observando o nascimento do novo homem” pintado em 1943 por Salvador Dalí. 

O que são as Práticas Integrativas e Complementares?

Grupo Reinserir

No Brasil, desde 2006, existe a Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PICS), que serve para garantir acesso, através do SUS, às estratégias de cuidado em saúde que não estão incluídas nos tradicionais tratamentos do modelo biomédico.

Nas PICS estão inclusas práticas como arteterapia, acupuntura, yoga, quiropraxia, entre outras.

Garantir este acesso é fundamental para a construção de um cuidado ampliado que não se limite aos parâmetros normativos do modelo médico e meramente fisiologista de saúde e bem-estar.

Levando em conta os limites existentes já que muitas dessas práticas não são, até então, baseadas em evidências científicas sólidas - o que também é de se pensar já que nossa produção de dados científicos muitas vezes gira em torno dos interesses das indústrias envolvidas no processo saúde-doença e não do bem coletivo dos sujeitos.

Se interessou? Você pode procurar saber mais sobre no Centro de Práticas Integrativas e Complementares mais próximo da sua residência 😁 este é um serviço do SUS, gratuito e direito de todes!

Na imagem: quadro de Adelina Gomes, participante da oficina artística de terapia ocupacional de Nise da Silveira.

O que é "rede de apoio"?

Grupo Reinserir

Um assunto frequente quando se pensa em trabalho na atenção primária em saúde ou quando se pensa criticamente a maternidade, a expressão “rede de apoio” tem tomado cada vez mais visibilidade.

Mas o que é?

Pensar em rede é saber com quem e como se pode articular, desde o manejo de um quadro clínico, aos cuidados de crianças ou os sofrimentos produzidos cotidianamente pela vida.

Uma rede de pessoas (e não tem um número ideal, viu? Cada vida é uma vida), com quem podemos demandar e receber , trocar cuidados, presenças, problemas.

Culturalmente, as vemos da maneira mais orgânica possível nas regiões periféricas, entre as mulheres trabalhadoras que dividem o crescimento de suas crias. Em suma, as redes são relações que podem tornar a vida mais branda ou, pelo menos, mais possível. Vivemos em redes, precisamos nos atentar para fortifica-las.

Uma dessas relações importantes pode estar dentro do Setting terapêutico, para, principalmente servir de facilitadora na construção de novas e mais redes.

E você, quando foi a última vez que tomou café com aquela comadre?

Na imagem: “Batizado de Macunaíma” de Tarsila do Amaral, pintado em 1956. Nas culturas dos povos originários da América Latina, a criação das crianças e a manutenção da vida eram compartilhadas. Alguns países ainda guardam registros de tribos matriarcais.

O que é a Psicossomática?

Grupo Reinserir

Estudados pela medicina, psicologia, psicanálise e outras perspectivas, os fenômenos psicossomáticos, sinteticamente, são materializações, físicas e/ou sensoriais estimuladas por sofrimentos produzidos pela relação entre sujeito e ambiente. 

Geralmente agravados ou intensificados diante de uma recusa ou negligência no manejo. 

Dores e inflamações recorrentes de garganta, fibromialgia, alergias, crises respiratórias, tensão muscular e dores de cabeça são alguns dos quadros clínicos comuns que, através das décadas, foram sendo observados empiricamente e, diante da ausência de causas orgânicas, entendidos como possíveis manifestações “visíveis” para os sofrimentos humanos. 

A determinação social deste processo também é indispensável para a análise. Isto é, muitas horas consecutivas de trabalho, ausência de descanso ou falta de acesso a condições adequadas de alimentação ou demais necessidades básicas de vida podem ser as principais causas. 

Sujeits colocads em situação de vulnerabilidade e submetids às violências estruturais dessa sociedade se apresentam entre os mais acometidos pelos fenômenos. 

Vivemos em um sistema onde direitos são negados todos os dias, à grande maioria da população. Perdemos até o direito de sentir e responder ao corpo suas necessidades mais primárias. Observar um sintoma/fenômeno psicossomático não deve, em nenhum nível, culpar aquele que sofre, é urgente entender como nossa sociedade produz os adoecimentos recorrentes, para então tratar essa ferida desde sua raiz. 

Pastilhas para garganta não curam silenciamento. 

Sobre a imagem: “Mulher Chorando” pintada em 1944 por Cândido Portinari, artista plástico brasileiro, comunista, que expressou em suas obras o cotidiano do explorado povo brasileiro. 

O que é cooperativismo?

Grupo Reinserir

Lembram daquela história que já falamos algumas vezes sobre o desmonte das leis trabalhistas e as consequentes mudanças nas relações de trabalho? Então, nesse sentido, temos visto alguns conceitos ganhando visibilidade, como alternativas possíveis de trabalho, renda e sobrevivência. 

Um deles é a noção de cooperativa.

O cooperativismo é uma estratégia de administração de um negócio, que implica num grupo de trabalhadores com atividades/interesses econômicos em comum, compartilhando as decisões a serem tomadas.

Nas próximas semanas falaremos um pouco mais sobre a história do cooperativismo, como ele funciona e como a gente aqui no Reinserir tem se pautado nesse modelo, entre nós e nas intervenções terapêuticas também ;)

imagem da obra “A feira” de Tarsila do Amaral,

O Reinserir atende exclusivamente a população preta e LGBT?

Grupo Reinserir

Oxi, não.

A gente atende todo mundo 🤓 

Enfatizamos a clínica direcionada a essas populações pois são, historicamente, na psicologia, sujeitos negligenciados e violentados por uma perspectiva clínica normativa, que aqui, procuramos romper. 

A noção crítica, popular e acessível de clínica proposta e construída pelo Reinserir é sobre tods. Entendendo o lugar social que cada um ocupa e como isso interfere em sua subjetividade e sofrimentos.

O Reinserir é, inclusive, o lugar em que homens brancos, heterocisnormativos, podem repensar sua masculinidade, rompendo com as lógicas de violência sob as quais foram ensinados a existir 😉

Ou seja, vem todo mundo! 

Sobre a imagem: “O ônibus”, pintada em 1929 por Frida Kahlo. 

Por que a autoajuda não funciona?

Grupo Reinserir

Apesar das raízes dos sofrimentos serem comuns, isto é, coletivas, compartilhadas, a forma de acessar e lidar com tais sofrimentos é singular, única para cada sujeito, de acordo com cada existência.

Por exemplo, podemos falar que o machismo, aspecto estrutural-estruturante da sociedade capitalista, é um dos determinantes dos sofrimentos de muitas pessoas, mas o “como” esse sofrimento vai se dar e a resposta mais efetiva a ele, vai depender de muitas coisas que são particulares de cada experiência.

Por isso, um livro cheio de conselhos e regras não soluciona um sofrimento por si só, por mais bem intencionado que seja. Pode até ser legal saber o que aquele autor pensa sobre a vida, se deparar com reflexões que você ainda não fez etc mas isso não substitui o seu processo terapêutico/analítico. Até porque, a terapia é uma relação terapêutica, ou seja, o cuidado se dá nessa interação entre a pessoa que atende e a que é atendida, o autocuidado tem um limite claro, que é quando a pessoa precisa de CUIDADO, isso mesmo, de um cuidado vindo do outro.

Em suma, a autoajuda não é suficiente porque uma pessoa em sofrimento precisa de AJUDA, vinda de outra(s) pessoa(s), que deve ser tecnicamente capacitada para isso.

Sobre a imagem: “homem se esquivando entre suas próprias escolhas” de @susanocorreia

Por que a periodicidade das sessões é importante?

Grupo Reinserir

Tem um post bem legal aqui falando sobre tempo, nele a gente fala, inclusive, que o processo terapêutico pode variar em duração e frequência. E é importante saber dessa flexibilidade. 

Porém, isso difere das comuns “fugidas” da terapia quando se chega a um ponto crucial a ser tratado. Imagine que cada processo terapêutico tem um ritmo, pra acessar, repetir e elaborar as coisas. Quando ele fica desordenado, talvez as coisas se percam pelo caminho.  

E tudo bem se você estiver buscando por sessões pontuais de catarse, mas é importante ser honesto consigo e com o processo. Vez ou outra surge a frustração por não se aprofundar em um processo em que sequer mergulhou. 

Isso pode ficar cansativo. E a terapia não precisa ser uma tarefa cansativa. 

Se estiver difícil ou doloroso acessar determinadas coisas, isso pode ser acordado e um novo ritmo ser construído. 

Tratar o próprio processo psicoterápico com carinho é um importante autocuidado. O abandono de si pode ser um sinal e tanto. 

Sobre a imagem: “homem se escondendo de si, na busca de si mesmo” de @susanocorreia

Por que as mães-esposas estão tão cansadas?

Grupo Reinserir

Essa resposta precisa começar com outra pergunta: quando você mancha aquela camiseta branca, como é que ela aparece limpa na gaveta de novo?!

Alguém lavou, não é mesmo? Mas veja, como esse alguém sabia exatamente o que fazer pra tirar a mancha? Quem comprou o alvejante adequado? É uma vida inteira de treinamento pro trabalho mais necessário e mais mal (não) pago desse mundo: o da manutenção da vida.

A alternativa pra isso passa por 2 passos fundamentais:

  1. Mães: façam menos.

  2. Filhes e companheires: façam mais.

Sim, é necessário que cada um se responsabilize mais por si e pelo coletivo para que essas mulheres possam beirar menos a exaustão.

Sobre a imagem: “El abrazo de amor de El universo, la tierra (México), Yo, Diego y el señor Xólotl” de Frida Kahlo

Por que avisar a minha terapeuta que não irei comparecer a sessão?

Grupo Reinserir

A pergunta de milhões, e talvez uma das mais importantes, inclusive.

Como já dissemos por aqui em algum momento, entendemos que a vida é louca, os prazos apertados, as emergências e imprevistos.

Mas, além de respeitoso com a sua terapeuta, é importante avisa-la do não comparecimento a sessão, porque pode ter um outro paciente esperando para encaixe.

Além disto, é um tempo em que a sua psi pode ir dar conta da manutenção de sua própria vida, preencher prontuários, fazer recibos, entre outros.

Exercitar a sua organização pessoal, também faz parte do processo terapêutico, sabia? Inclusive, caso tenha dificuldades com isto, troca uma ideia com a sua terapeuta (:

Se possível, avise ><'

Imagem: “homem pensando fora da caixa, de dentro da caixa” de @susanocorreia

Por que procuro psicólogs que pareçam comigo?

Grupo Reinserir

A psicologia foi e ainda é, em muitos aspectos, uma ciência da saúde usada para controlar e adequar sujeitos, seguindo um parâmetro que, como falamos bastante por aqui, é branco, burguês e heterocisnormativo.

Dito isso, é sabido que violências estruturais acontecem em muitos processos terapêuticos e uma tentativa comum de se proteger disso é a confiança em uma terapeuta que parta de um lugar semelhante ao seu.

O processo terapêutico não se basta na identificação mas ela certamente é parte importante dele.

Aqui, defendemos e construímos uma psicologia construída por todes e para todes. Nada sobre a gente, sem a gente.

Na imagem: Exemplo de Mandala de Carlos Pertuis, paciente de Nise.

Por que psicólogs não podem atender amigs?

Grupo Reinserir

Apesar de não existirem proibições assertivas com relação a isso no código de ética da psicologia, entendemos que existem limites que devem ser respeitados.

A convivência e interação entre terapeuta e paciente/cliente fora do consultório pode interferir na construção dessa relação, que tem como principal função o processo terapêutico. Por isso, é importante acordar limites para essas interações, o que se dá, na nossa perspectiva, de maneira orgânica entre os sujeitos envolvidos, isto é, na base da conversa, evitando possíveis constrangimentos e escolhendo por aquilo que melhor implique no processo buscado.

Em cada abordagem terapêutica, a discussão sobre ética, influências e transferência pode se dar a partir de algumas diferenças mas sempre respeitando as diretrizes dos Conselhos da profissão e a perspectiva crítica e social que temos em comum.

Na imagem: a obra “Dois nus na floresta” (invertida) de Frida Kahlo, também conhecida pelo título “Minha Babá”, pintada em 1939.

Por que tem camisinhas no consultório?

Grupo Reinserir

Quando falamos sobre clínica ampliada, precisamos falar sobre acesso à prevenção em saúde. Parte importante disso são as práticas sexuais. Aqui no Reinserir é importante que todos e todas tenham acesso para viver suas possibilidades da maneira mais prazerosa e segura possível! Por isso, construímos um cantinho informativo, onde você encontra materiais sobre métodos de prevenção das ISTs (Infecções Sexualmente Transmissíveis), onde e como fazer os testes e também dispomos de preservativos, internos e externos pra garantir que todos possam se proteger! Em tempos de pandemia não podemos nos esquecer de que a transmissão da Sífilis ainda é um problema, tendo aumentado cerca 30% no ultimo ano, segundo o relatório do Ministério da Saúde, e pode levar até a morte. No nosso cantinho você também encontra informações sobre a PrEP (Profilaxia pré-exposição), PEP (Profilaxia pós-exposição), onde fazer a testagem e também coisas bem legais sobre Redução de Danos! O mural informativo fica entre a recepção e as salas de atendimento do Reinserir. Você já conhece?

Por que é tão difícil começar a psicoterapia?

Grupo Reinserir

A gente conhece o caminho que trilhou, sabemos das coisas que vivemos. O que não se sabe, geralmente, é como cada uma dessas coisas se encaixa na construção do nosso sofrimento. A psicoterapia costuma ser o lugar procurado pra botar essas coisas em ordem, nomear o que não sabemos como chamar. E aí, a gente chama o sofrimento, senta do lado dele pra tomar um café, evidencia tudo aquilo que por anos, botamos panos quentes em nome da sobrevivência. Resistência é sobrevivência, um pouco na psicanálise também. Quando a gente não sabe mais o que se pode fazer, que ferramentas usar ou que remédio passar num machucado, cobri-lo e evitá-lo parece a única alternativa.

Mas ó, a gente tá aqui pra contar que existem outras alternativas, outras saídas, outras opções. A gente pode abraçar essa história e esses sofrimentos junts, pra entender as feridas, as marcas, os desafios e as satisfações. E então você percebe que pode decidir por onde trilhar, a partir de então. Isso não quer dizer que os próximos caminhos serão fáceis, dá pra descobrir, inclusive, que o mais difícil faria mais sentido. Ou não.

É preciso explorar, desvendar. E pra isso, vamos começar?

sobre a imagem: “o homem sentindo que é principalmente a parte que falta compreender” de @susanocorreia 

Posso dar presentes para a minha terapeuta?

Grupo Reinserir

A resposta é, sim, você pode (:

Estamos falando aqui de relações humanas, então nem tudo é transferência ou contratransferência.

Nem tudo é sobre querer agradar ou querer ter o amor da(o) sua(seu) psicóloga(o).

Podemos pensar que pode ser um desejo genuíno de demonstrar afeto por aquela pessoa que te acolhe, te escuta e está com você semanalmente e vice-versa! Chega no Reinserir pra ver se a gente não vai oferecer um docinho também.

Então é importante ter um olhar atento para perceber que nem tudo é sintoma ou busca de validação do outro, a vida vira uma chatice desse jeito.

Porém psi, é importante avaliar qual é a frequência, dimensão, e a partir daí analisar se é algo que precisa ser trabalhado ou não com o paciente em sessão.

Imagem: “O abraço” de Ernesto de Fiori

Posso escolher com que psicoterapeuta quero passar?!

Grupo Reinserir

Aqui no Reinserir, sim!

Os mini-currículos de tods psis estão disponíveis nos destaques. Você pode dar uma olhadinha pra saber um pouco sobre cada e ver se rola um match logo de cara com as áreas de estudo etc.

Entendemos que as pessoas partem de lugares concretos de construção e que, determinados lugares, viabilizam uma maior identificação. Além de, ao longo da formação profissional, estimular interesses por certos temas de estudo.

Mas só rola terapia se for assim??? Não! A relação terapêutica pode ser construída de outras tantas maneiras, precisa só da disponibilidade de ambas as partes :)

Além de que, aqui, entendemos que tods psis precisam ter uma relação próxima com muitos temas fundametais para compreender os possíveis lugares dos sujeitos nessa sociedade, como classe, raça, gênero e sexualidade etc.

Assim se faz uma clínica crítica e com compromisso social ;)

Imagem: Emygdio (6.6.1969) - in: ‘O mundo das imagens’. Editora Ática, 1992.

Posso levar meus/minhas filhes na terapia presencial?

Grupo Reinserir

O dia da sessão de psicoterapia é o momento que você tem para si, é o seu tempo, seu espaço, sim.

Mas também sabemos que existem muitos pais/responsáveis que não tem com quem deixar a criança e vão precisar levar.

O primeiro ponto a se levar em consideração é a idade da criança. São bebês/crianças pequenas, que ficam no canguru/sling? Existe essa possibilidade de entrar com o responsável na sala e seguir com a sessão.

Crianças maiores, com mais de 4/5 anos, será necessário entender com o(a) seu(sua) psi antes a disponibilidade de ter um espaço com um responsável para ficar com ele no período em que você estiver em atendimento. Com crianças maiores é mais difícil manter em uma sala fechada, por 50/60 min, mas tudo depende também do espaço, estrutura!

Estamos trabalhando para conseguir dar conta desta demanda da melhor forma possível por aqui (:

Então, é muito importante entender e avaliar isso antes do dia da sessão com seu(sua) psi, tá bem?

Imagem: Frida Kahlo; Mi nana y yo.

Promessas de Ano Novo: onde a psicoterapia se encaixa?

Grupo Reinserir

Todo ano um punhado de coisas que queremos mudar. E a lista só cresce.

Quando o novo ano começa, o desgaste do dia-a-dia faz com que as promessas se percam na rotina. Talvez pela óbvia exaustão, mas talvez porque ainda não conseguimos delimitar o que é realmente importante e faz sentido pra a gente. Nisso aqui, a psicoterapia é indispensável.

Que tal começar esse novo ciclo usando o espaço terapêutico para mergulhar em você e filtrar nessa lista enorme de tarefas o que realmente importa? E aí, a partir disso, conseguir a organização necessária para alcançar cada um desses degraus?

Estamos aqui para facilitar esse processo!

Sobre a imagem: “todos a bordo do meu vazio” de @susanocorreia

Psicologia por amor???

Grupo Reinserir

Não, obrigada.

Psicologia é ciência e profissão. E psicólogues, trabalhadores da psicologia e da produção científica em psicologia, trabalham, neste sistema, por que precisam. Pra sobreviver mesmo.

Nessa vida de produção compulsória, caminharam - talvez sem eira - até aquilo que entendem por psicologia.

E como trabalhadores da psicologia, sobrevivemos trabalhando e resistimos nos posicionando e disputando a luta de classes existente nessa sociedade.

Por isso, psicologia é por trabalho e por escolha política.

Repetindo Federici, o que chamam de amor, é trabalho não pago.

E romantizar uma atividade de trabalho só serve para desmobilizar os trabalhadores, para submetê-los a condições de trabalho cada vez mais precárias e aliená-los para que desempenhem a manutenção desse sistema através do irrisório (bio)poder que lhes é conferido.

Imagem: @tsa.editora

Psicoterapeuta resolve meus problemas?

Grupo Reinserir

O processo terapêutico pode e deve - da nossa perspectiva - ser acolhedor e até um pouco diretivo mas não é sobre executar as tarefas e comportamentos que cabem somente ao sujeito atendido. 

Acreditamos que a construção da autonomia é parte indispensável da terapia. Entender-se enquanto sujeito diante e no coletivo, para e por ele. Mas sem que se perca a condição de sujeito autônomo. Com quereres, fazeres, desejos, medos e vida.

Então, é possível levar as questões na quais se precisa de auxílio para a terapia, pra que se entenda muitas coisas: o porquê de parecer difícil de fazer, por onde começar e até mesmo a quem recorrer. Mas o processo terapêutico continua mesmo ao fim da sessão e aí que cabe a maior tarefa do sujeito analisado: atuar, materializar, realizar aquilo que carece de transformação. 

A gente luta junto mas tem também a parte do você que lute :P

(ou como a Nati gosta de dizer: “sustenta!”)

Sobre a imagem: “Raizes” pintado em 1433 por Frida Kahlo, criado na época em que a artista se casa novamente com Diego Rivera.

Psicoterapeuta só escuta?

Grupo Reinserir

Músicos só tocam instrumentos?

A escuta é a principal ferramenta de trabalho na psicoterapia. Uma ferramenta que possibilita acessar conteúdos psíquicos/emocionais de uma pessoa. 

Escutar qualitativamente, quer dizer identificar demandas, possíveis causas de sofrimento, acolher a falta de alguém e, ao cruzar o discurso dessa pessoa com a formação técnica e filosófica da psicologia, pensar alternativas possíveis de como lidar com aquilo que é trazido E AINDA como comunicar isso à quem está sendo ouvido. 

E a gente escuta com o ouvido, com os olhos, com o nariz e com todos os sentidos possíveis a existência humana. Há na escuta de uma terapeuta uma entrega tamanha, a disposição de vida humana diante do que fala uma outra vida humana. 

A gente escuta até quando tá falando aquilo que faz com que vocês dêem aquela tela azul. 

Então não, psicoterapeuta não SÓ escuta. 

Mas sim, o trabalho em psicoterapia é a escuta.

E o que é a escuta? Você tem escutado? 

Imagem: homem preso no labirinto de si, sabendo que não há saída de @susanocorreia

Psicoterapia é coisa de louco?

Grupo Reinserir

De que loucura você está falando? Da subversão da ordem posta ou do sofrimento surgente a partir da noção que não se tem controle da própria realidade e se apela por viver em fantasia? A psicoterapia é o lugar relacional, para se relacionar consigo enquanto constrói uma relação terapêutica com o outro. Lugar do tempo, do espaço, do silêncio, do choro, do riso, de todas as emoções genuinamente humanas. Lugar das pazes com a criança deixada para trás que vez ou outra surge para nos contar sobre o que fomos, somos e como seremos. Lugar para se entender enquanto sujeito-humano-social-complexo e singular, em meio a alienação deste sistema e diante disso, escolher mudá-lo.

Sem título (1948), obra de Raphael Domingues, um dos pacientes de Nise da Silveira.

* Nise da Silveira nasceu em 1905, em Maceió, Alagoas. Tornou-se uma das primeiras mulheres médicas do Brasil, quando se formou em 1926 pela Faculdade de Medicina da Bahia. Especializou-se em psiquiatria, contrapondo aos tratamentos violentos que eram realizados na época, como lobotomia e eletrochoques. “Doutora vermelha” como era chamada, defendia a produção e o acesso à arte como parte do processo de tratamentos de seus pacientes. Considerada extremista, sofreu perseguição política, chegando a ser presa. Continuaremos lutando, assim como Nise da Silveira, por um cuidado integral, humanizado e contra-hegemônico.

Psicólog prescreve remédio?

Grupo Reinserir

Não. Nem floral. Nem técnicas de homeopatia.

Essas podem ser estratégias terapêuticas válidas, de acordo com a demanda de cada processo. Mas aqui no Reinserir, por escolha técnica, não trabalhamos com elas.

Sobre o uso de substâncias psicoativas, os psicotrópicos, é sempre indispensável consultar-se com profissionais psiquiatras. Mantendo ainda a crítica de que o uso desnecessário ou abusivo dessas substâncias pode, e costuma ser, prejudicial ao processo terapêutico/analítico.

O uso de florais vem sendo cada vez mais comum e visto como ‘alternativa’ ao uso dos fármacos tradicionais. Salientamos a importância de, ao escolher por essa estratégia de cuidado, guiar-se por profissionais de confiança.

Outra prática que tem se popularizado é o uso de óleos essenciais. Porém, já existem registros de casos de intoxicação gerados pelo uso excessivo ou equivocado desses materiais.

A indicação é simples: ao se expor a substâncias externas ao seu organismo, é fundamental buscar pelo máximo de informações sobre e, se possível, contar com o monitoramento de profissional responsável pela área.

As terapêuticas disponíveis são muitas e devem ser acessadas com responsabilidade. E nunca devem comprometer a autonomia de quem escolhe por seu uso.

O Grupo Reinserir conta com uma rede de profissionais de confiança, para mais informações entre em contato com a gente.

Lembrando que você também pode acessar psiquiatras do CAPS - Centro de Atenção Psicossocial do território onde mora ou através da sua UBS - Unidade Básica de Saúde de referência.

Sobre a Imagem: Óleo sobre tela, pintado em 1950 por Carlos Pertuis, atendido pela oficina de Terapia Ocupacional de Nise da Silveira. Acervo “Museu do Inconsciente”.

Quais são as expectativas dos pais ao buscar psicoterapia para os seus filhos?

Grupo Reinserir

É necessário uma aldeia inteira para cuidar de uma criança. Essa é uma fala comum nas áreas atravessadas pela educação e pela infância. Reconhecida como um provérbio africano, reflete o pensamento de diferentes autores. Em suma, ela nos chama atenção para uma coisa: criança dá trabalho, já dizia Palavra Cantada. 

Na dinâmica familiar, em sua composição cada vez mais reduzida, os cuidados parentais ficam distribuídos em 1 ou no máximo 2 pessoas. Que também precisam de trabalhos remunerados que possibilitem pagar as contas, também precisam dar conta da manutenção de uma casa e de suas próprias vidas. Logo, parece óbvio que falta tempo e energia e sobra demanda. 

Desse modo, chegam ao consultório, através de diferentes sintomas, uma busca central: uma rede de apoio e amparo pra conseguir lidar com tamanha demanda. 

A parentalidade (os pais) buscam acolhimento e ferramentas pra lidar e manejar o que é trazido por aquela que criança que, muitas vezes, pode já estar em sofrimento. 

Você, que cuida de uma criança, ao procurar a terapia, saiba que pode assumir suas próprias angústias. Alinhar as expectativas junto a terapeuta é fundamental. Infelizmente, essa criança não vai sumir com os sintomas dos quais você se queixa de uma hora pra outra por que, muitas vezes, esses sintomas nem são só dela mas sim, um resultado das interações que rodeiam, na casa, na escola e no resto do mundo. Aqui, temos um lugar seguro para assumir os desafios e pensar, juntes, como superá-los. 

Imagem: Crianças orfanato, 1935 de Tarsila do Amaral

Quais são os limites da psicoterapia?

Grupo Reinserir

“O problema da terapia 

é que ela não resolve

a questão

do impeachment”

Sim, querido twit*ter, você tem razão.

Hoje vamos falar sobre os limites da psicoterapia.

Em uma situação hipotética, ideal, o setting terapêutico serve como um espaço seguro para pensar, entender e elaborar aquilo que produz sofrimento e as transformações necessárias.

Por vezes, transformar a angústia em palavra dita, a escuta, o acolhimento, a validação, já parecem suficientes para manejar aquele sofrimento. E pra explicar isso existem várias teorias em psicologia, seja qual for a abordagem.

Outras vezes, é necessário exercitar, depois do término da sessão, no dia-a-dia, as mudanças e questões que foram descobertas no setting. 

E muitas vezes, as mudanças que se buscam são radicais. Isto é, muito mais sobre a estrutura onde se vive que sobre um comportamento singular, individual. E nesses casos, a função mais importante da terapia é proporcionar a noção de que sim, é legítimo esse sofrer e não, não sofremos sozinhos.  Para a partir disso, encontrarmos as subversões e reduções de danos possíveis. Para sobreviver, junts, até que alcancemos as transformações. 

Sobre a imagem: “El Arsenal” pintado por Diego Rivera, em 1928, no Patio de Las Fiestas (terceiro piso, muro sul).

Qual a importância de se fazer terapia?

Grupo Reinserir

A importância que algo tem é aquela que se dá. A terapia pode (e da nossa perspectiva, deve) ser espaço seguro de fala, contemplação, troca e compreensão, dos fenômenos e processos singulares, produzidos e atropelados de maneira feroz pela vida cotidiana.

Aprender a construir uma relação terapêutica, de confiança, afeto e autonomia, pode ser importante experiência na nossa vida, de sujeitos contemporâneos, que pouco aprendemos a nos relacionar de maneira não violenta. Importante não esquecer, é claro, que do ponto de vista da terapeuta, a terapia é um trabalho, que nos traz sentido e satisfação, parte importante pra diferenciar daquela conversa gostosa com os amigos na mesa do bar, né?

Reafirmamos o compromisso científico e profissional da psicologia, entendendo que ela pode ainda, ir além do mero cientificismo estatístico, construindo uma ciência que faça sentido para e pelas pessoas.

Qual a importância dos responsáveis no processo terapêutico de menores de idade?

Grupo Reinserir

Quando uma criança ou adolescente inicia o processo de psicoterapia, é de extrema importância ter o acompanhamento dos pais/responsáveis.

Você, pai/responsável, que tem uma criança ou adolescente em acompanhamento psicoterapêutico, pode e deve bater um papo com o psi que o está acompanhando, para entender como está a evolução do processo de terapia.

O psi vai te orientar e passar informações sobre a evolução do processo (se estão avançando ou não).

Importante reforçar que o psi não pode e nem vai te passar informações sobre o que é conversado em sessão por conta do sigilo terapêutico (a não ser que haja risco à vida), então se quiser saber sobre o que é falado em sessão, pergunte para sua criança/adolescente, beleza?

Outro ponto importante de ter esse acompanhamento de perto é entender a dinâmica da sua relação com sua criança/adolescente.

É importante olhar também para si, repensar essa relação, identificar em você também questões que podem ter impacto direto na sua criança/adolescente.

Então pais e responsáveis, chamem o psi que está acompanhando sua criança/adolescente para uma conversa e busque manter essa relação mais de perto.

Imagem: Cícero Dias; obra “Pai e filho”.

Qual é a diferença de terapia e psicoterapia?

Grupo Reinserir

O conceito de terapia é mais amplo e contempla práticas de diferentes campos do saber. Fisioterapias, práticas alternativas ou integrativas e complementares, medicinas não-ocidentais entre outras.

A psicoterapia é um conjunto de metodologias de acompanhamento terapêutico que implica na fala, na verbalização das angústias e sofrimentos trazidos por paciente/cliente, para que se acesse as esferas psicológicas, subjetivas ou inconscientes, buscando, em geral, a elaboração (compreensão ou transformação) de tais sofrimentos. É também prática regulamentada exclusivamente aos profissionais da psicologia, segundo os conselhos responsáveis pela profissão.

Aqui no Reinserir, todes profissionais são devidamente registrades no CRP - Conselho Regional de Psicologia.

Arte: @debracartwright

Qual é a posição política do Grupo Reinserir?

Grupo Reinserir

O Grupo Reinserir está alinhado a uma posição política que compreende que o indivíduo nunca está isolado do social, mas ao contrário, se constitui a partir do social. Esta concepção nos permite ter um olhar mais cuidadoso para o social, compreendendo que há diversas questões que perpassam a construção da subjetividade das pessoas, como a classe social, etnia/raça, identidade de gênero, sexual, etc. Portanto, vivemos hoje em uma sociedade que tem como base desigualdades em diversas esferas que colocarão as pessoas em situações em que as possibilidades de bem estar e satisfação pessoal serão menores do que outras. Há pessoas que gozam de educação, lazer, segurança e saúde da melhor qualidade, enquanto outras têm chances de sobrevivência extremamente reduzidas. Diante de tal realidade, nossa luta não se restringe a amenizar ou “curar” patologias, mas buscar construir uma sociedade sem desigualdade, opressão e exploração já que estas relações são a base para grande parte do sofrimento psíquico. Acreditamos que a Psicologia é um instrumento necessário para uma ação transformadora rumo a um futuro melhor. Todos os nossos serviços possuem esses valores e posição política como premissa.

Qual é o objetivo da psicoterapia?

Grupo Reinserir

Essa é uma pergunta importante de você fazer pra você mesme também, né? Ter a própria expectativa sobre o processo nítida e assumida, é indispensável.

Depois, a gente pode pensar nos possíveis objetivos que trabalhamos por aqui…

O primeiro e talvez mais intenso é: acolher um sofrimento. Ninguém procura a psicoterapia porque tá tranquile. Existem demandas dolorosas, mais ou menos conscientes. Qual é a sua?

O segundo tá justamente aí: tornar-se ciente de si. De seu sofrimento, de sua construção. A ideia de autoconhecimento pode estar meio desgastada mas não deixa de ser importante. Entendendo que, conhecer a si é também conhecer o mundo, o Outro, e as relações existentes em tudo isso.

O terceiro e mais procurado é: mudar, transformar. Que geralmente vem encapado por uma ideia de “resolver” ou “consertar”. E faz parte do mesmo processo; acolher, compreender e transformar.

Todas essas partes dependem de um agir em primeira pessoa, quer dizer, por mais fundamental que seja a presença da terapeuta - já que a gente é bicho social que se entende quanto sujeito quando constrói uma relação com o Outro - quem realiza todas essas missões, é você.

O objetivo da psicoterapia (ou da relação terapêutica) é garantir tempo e espaço pra que você se ouça, se acolha, visualize sua própria construção e mude aquilo que escolher mudar.

Quando procurar a psicoterapia?

Grupo Reinserir

Quando bater a vontade, né? Para além das categorias nosológicas, dos sintomas registrados nos manuais, entendemos que o próprio sujeito é aquele que sabe mais sobre si e suas condições e necessidades. Ao surgirem angústias, demandas pontuais ou sinais de sofrimentos cronificados, as portas desta clínica política-ampliada estarão abertas, para que se acolha, compreenda, maneje e transforme aquilo que for ascendido no ambiente terapêutico. Dos incômodos e cotidianos sinais da ansiedade, da exaustão do trabalho ao luto familiar, estaremos aqui, disposts a construir esse processo junts.

Obra de Frida Kahlo - “O que a água me deu”, 1938.

Quantas emoções cabem numa sessão de terapia?

Grupo Reinserir

“Parei com a análise, estava sendo muito doloroso!” – ouvi de uma psicóloga, doutora. A noção de que o setting terapêutico é um ringue de luta interpretativa é descabida e se torna impraticável na nossa vida contemporânea. Já vivemos uma realidade cotidiana violenta. Uma estrutura produtiva violenta.

A terapia pode ser sim um lugar seguro para acessar cada uma dessas dores. Mas não deve reproduzi-las. Assim como deve ser um lugar seguro para acessar as alegrias, satisfações e desejos da vida. De uma vida que costuma ser tão negligenciada lá fora. A clínica é o lugar da vida. Cruzar o corredor do Reinserir e nos depararmos com algumas gargalhadas era experiência diária enquanto o distanciamento social não nos impôs a terapia online.

Hoje elas estão contidas nas casas, quartos, salas, cozinhas ou carros que abrigam nossos processos. Mas continuam. O riso é tão humanizador quanto o choro, quanto a catarse da raiva, o grito. Todas as emoções cabem numa sessão de terapia. Quais são as suas?

Sobre a imagem: “O que você carrega contigo?” de Griô (@grio.sp)

Quanto tempo pode durar uma psicoterapia?

Grupo Reinserir

Seria um tanto óbvio dizer que tempo é relativo então usemos a pergunta: quem mede esse tempo e pra quê ele serve?

O processo psicoterápico é singular, relacional, avança ou recua de acordo com as condições para tal, por isso, tentar estabelecer um prazo específico seria necessariamente assumir determinados interesses de metas e produção com os quais não nos alinhamos por aqui.

A psicoterapia não é linear e nem ininterrupta, entender-se e transforma-se movimenta diferentes aspectos e momentos da nossa vida. Sim, você pode ir e voltar para a terapia. Sim, você pode passar por um acompanhamento pontual e se sentir satisfeito para a demanda daquele momento. E sim, você pode escolher pelo acompanhamento por anos consideráveis de sua vida.

Desprender-se do tempo quanto medida produtiva talvez seja uma crítica importante a se fazer. Quanto mais rápido mais eficaz? Talvez não. Quanto mais demorado mais profundo? Certamente, não. Olhe a si e ao processo, ali constam maiores e mais relevantes informações que em relógios e calendários.

Sobre a imagem: A persistência da memória (invertida), de Salvador Dalí, pintado em 1931.

Quanto vale o trabalho da/o terapeuta?

Grupo Reinserir

Já falamos por aqui sobre como os valores dos atendimentos são delineados. A questão hoje é outra.

Quando falamos em clínica social, aqui no Reinserir, não nos referimos apenas a preços “menores”. Mas sim, a uma perspectiva clínica ampliada, não-normativa, que, por se propor popular e acessível, passa também por valores diferentes dos sugeridos pelo Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, que, a propósito, está tabelado entre R$ 165,58 e R$ 283,87, por sessão, o que obviamente é um valor absolutamente aquém da realidade dos trabalhadores brasileiros.

Mas, isso não quer dizer que os terapeutas dispostos aqui sejam menos trabalhadores ou dependam menos da venda de sua força de trabalho. Por isso, sim, as primeiras sessões são pagas; as sessões extras com familiares são pagas.

E mais. Podemos entender a estratégia clínica do Reinserir como uma espécie de “financiamento coletivo”, isto é, quando você, diante da sua disponibilidade financeira, escolhe pagar um valor acima do mínimo, está contribuindo para que esse terapeuta atenda mais pessoas com menos possibilidades financeiras. Além de reconhecer o trabalho de sua terapeuta, você também possibilita a ampliação do acesso a um acompanhamento em saúde mental crítico e de qualidade para tods.

A nossa proposta de saúde mental não depende só de nós, terapeutas. Mas conta muito com vocês também. Por isso, aqui, conversamos de maneira aberta sobre valores, custos e preços. Quando puder, troque uma ideia sobre isso com seu terapeuta. Aos poucos e dividindo, multiplicamos o acesso a saúde.

Tabela de honorários disponível em https://www.crpsp.org/pagina/view/65

Sobre a imagem: “O café” pintado em 1935 por Candido Portinari.

Que abordagem vocês utilizam?

Grupo Reinserir

Dentro da Psicologia há diferentes abordagens. As abordagens são linhas filosóficas, teóricas e metodológicas sobre o sujeito e o psiquismo.

Hoje o Reinserir conta com quatro abordagens no serviço de Psicoterapia:

Histórico-Cultural (ou Sócio-Histórica): Abordagem que surgiu na antiga União Soviética cujo o objeto de estudo serão as funções psicológicas superiores e a personalidade, que se constituem a partir das relações sociais e construções culturais. Para essa abordagem que tem como base o materialismo histórico e dialético o sujeito é eminentemente social e histórico e a origem última de seu sofrimento vem das próprias contradições das relações sociais que são internalizadas e formam uma dinâmica singular no sujeito. Seu principal autor é o Lev Vigotski.

Psicanalítica: A abordagem teórica e metodológica psicanalítica foi, em seu surgimento, idealizada e estruturada a partir dos estudos e prática clínica de Sigmund Freud.
Em sua essência, trata-se da busca pela compreensão e investigação do significado inconsciente das palavras, ações e produções imaginárias do sujeito através da associação livre (expressão dos pensamentos de forma livre) e do auxílio da escuta atenta e especializada do analista. Seu papel será, portanto, o de auxiliar sujeito a tornar consciente o modo de funcionamento de sua dinâmica psíquica, para que seja possível identificar tanto fatores geradores de sofrimento psicológico como o reconhecimento dos próprios desejos.

Analítica: Psicologia Analítica ou Junguiana, possui o viés teórico de Carl Gustav Jung. A abordagem tem o foco nas experiências simbólicas que o sujeito compreende ao longo da vida. A psicologia analítica aborda toda a psique dividindo pelo modo inconsciente, inconsciente coletivo e consciente. Em uma de suas citações, Jung diz “A questão não é atingir a perfeição, e sim a totalidade”, ou seja, o objetivo do processo terapêutico é chamado de individuação onde o analisando deve conquistar um maior grau de consciência em relação as suas experiências psicológicas, culturais e sociais.

Analítico-comportamental: A análise do comportamento é um método científico cujo surgimento se dá nas observações e constatações de B.F. SKinner sobre o comportamento humano e também de outros animais. Desde sua criação a análise do comportamento passou por processos de modificações e enriquecimento. Atualmente a terapia analítico-comportamental tem como uma de suas principais características o papel ativo e protagonismo que dá ao cliente no processo terapêutico. Sua principal ferramenta de análise é a análise funcional do comportamento: nessa procuramos entender as relações de causalidade e interações geradas por cada comportamento emitido pelo cliente. Nessa análise entra tudo: os pensamentos, os sentimentos, as emoções, as situações, os contextos, as intenções, as interações, os ganhos e perdas. Nosso objetivo é gerar autonomia e o desenvolvimento de autoconhecimento para que os clientes atuem de forma ativa nas modificações que desejam na própria vida, diminuindo o sofrimento e proporcionando mais qualidade de vida.

Quem tem medo do divã?

Grupo Reinserir

Geralmente temos medo do que é novo ou desconhecido, do que causa um estranhamento, um receio ou dúvida, mas o divã (aquele sofázinho maroto igual o da imagem, visto principalmente em clínicas de psicologia e psicanálise, onde o paciente se deita virado de costas para a psi) vem como uma ferramenta para auxiliar o processo terapêutico.

Ele é uma ferramenta da psicanálise que ajuda o paciente a entrar em contato consigo próprio de uma forma mais profunda, dando a possibilidade de pensar sobre suas questões de maneira mais livre, sem a interferência direta do “olhar” da terapeuta.

Então, em alguns momentos o uso do divã é muito importante. As sessões fluem, o paciente se sente mais à vontade e confortável para trazer suas questões. E também pode auxiliar bastante em suas resistências (:

Todo mundo que faz terapia com uma psi de orientação psicanalítica ou psicanalista vai para o divã?

Não tem uma regra, ir para o divã será analisado no decorrer do processo, com a possibilidade do paciente demonstrar seu interesse ou do próprio terapeuta sugerir.

Quem aí já foi pro divã?

Imagem: modelo sobre o divã de Edvard Munch

Será que a terapia tá fazendo efeito?

Grupo Reinserir

A vida não é útil, alertou Krenak. E a terapia não é utilitarista, escreveu a minha terapeuta.

O que quer dizer?

Vez  ou outra você vai se deparar com a dúvida de será que seu processo terapêutico tá mesmo funcionando, se tá tendo resultados. Mas funcionando pra quê? Que resultados seriam esses?

Na sua primeira sessão, você deve ter falado sobre uma demanda inicial e talvez não esteja muito perto de resolvê-la.

Tem uma galera centrada em produzir psicoterapias de “resultados mensuráveis” mas não é disso que a gente tá falando aqui não.

O rolê é que as pessoas chegam ao encontro terapêutico afim de se livrar de alguma coisa, uma angústia, um trauma, um sintoma. Mas o processo é muito mais sobre sentar com esse monstrinho e ouvi-lo. O descarrego das primeiras sessões, o desabafo, o alívio, sim, são partes importantes do processo. Mas não acaba por aí. Aliás, pode ser que cê saia mais angustiade de uma sessão e se surpreenda com a satisfação de saber do que é que se trata essa sensação. 

Não tranca tuas emoções não, nem as dolorosas. Elas são teu meio de comunicação mais legítimo e espontâneo com aquilo que diz respeito a você, tua história, teus sentidos e teus desejos. 

Sobre a imagem: “Cisnes refletindo elefantes” de 1937, por Salvador Dalí. 

Será que é depressão?

Grupo Reinserir

Tá sentindo essa energia negativa? É o sol em capitalismo e a lua em pandemônio.

Tem sido comum uma preocupação com hipóteses diagnósticas acerca da depressão, principalmente vinda de mães, familiares, companheires. Fulano não quer sair do quarto, tá dormindo muito ou pouco, comendo muito ou pouco, vive impaciente, não interage.

Sim, a depressão é, mundialmente, uma das maiores causas de afastamento do trabalho. Sim, sintomas deprimidos têm aumentado diante desse contexto pandêmico. E sim,  um dos agravamentos da depressão é o suicídio. É grave. 

Mas então, o que fazer?

Não patologize ou individualize o sofrimento teu ou de quem é importante pra você. Precisamos popularizar a noção de que os quadros de sofrimento mental são produzidos socialmente e portanto os seus manejos, também são. Não culpabilize quem sofre. Acolha. Ouça. 

Se o fulano tá mesmo deprimido não é culpa dele que é fraco, sensível demais ou distante de deus. Nós vivemos diante de uma lógica social adoecedora, que nos desumaniza. É legítimo estar triste e entender que não está sozinho nessa é um primeiro passo pra poder pensar em como reagir.  

Como bem diz Caetano, a tristeza é senhora, desde que o mundo é mundo é assim. 

*Em tempo, nesse sistema, a tristeza é lida como patológica quando interfere nas capacidades produtivas de alguém, isto é, a faz parar de produzir e reproduzir. Já passou da hora de superarmos isso, né?

Sobre a imagem: Foto de Felix Cadras. Imagem extraída do Twitter. “Não era depressão, era capitalismo” Santiago do Chile, 31 de outubro de 2019

Supervisão Clínica: o que é e pra que serve?

Grupo Reinserir

De forma pragmática, é a prática de falar sobre um caso ou demanda específica com um outro profissional ou grupo de profissionais, visando um maior entendimento. 

Para a psicanálise, a supervisão é parte indispensável da - contínua, quiçá infinita - formação do analista. Isto é, a troca com outre(s) acerca da relação terapêutica estabelecida, nos diz do processo em questão, da pessoa atendida e também de quem atende. Essa é a principal pauta da supervisão: a relação construída. Não é só sobre o material trazido por aquele que fala, mas sobre o que se escuta, como e porquê se escuta de determinado modo. 

Aqui, para nós, a supervisão também não é um ambiente hierárquico onde se presta contas do manejo escolhido, como costuma acontecer nas clínicas-escolas. Mas sim, um ambiente horizontal, de compartilhamento da experiência que se vive e daquilo que se sente, facilitando a compreensão daquilo que é observado e a construção das ferramentas que se precisa oferecer ao outro que busca escuta terapêutica. 

Uma cascata de escuta e acolhimento, de relações humanas. 

Aqui no Reinserir, a orientação é que todes terapeutas façam supervisão, com autonomia para seguir de acordo com a demanda de seus atendimentos e abordagem teórica seguida. 

É, também, norma prioritária que todas as histórias envolvidas sejam tratadas com o respeito e ética que exige o trabalho de cuidado em saúde. 

Para saber mais sobre supervisão clínica, visite o site cfp.org.br ou crpsp.org.br

Sobre a imagem: “embaralhando a carne e a alma” de @susanocorreia (invertida), aqui, lemos como práxis, relação, dialética. 

Tem que chorar na terapia?

Grupo Reinserir

A gente sabe que existem muitos protocolos, técnicas e ferramentas para mensurar processos terapêuticos. Por escolha ética, não adotamos nenhum. Por isso, não acreditamos que deva existir uma resposta específica, “certa” à psicoterapia. Cada sujeito, cada emoção, cada história e cada relação terapêutica constituem um movimento único. Sim, coletivo e social, pq é atravessado por muita coisa e muitas pessoas. Mas é único. Daquele momento, daquela interação.

Não é necessário dispensar energia em uma insegurança pq você não chora ou chora demais, ri ou não. Entenda todas essas coisas a partir e de acordo com o seu processo e não o do outro.

Imagem: “tocando com o coração” de @susanocorreia

Terapeuta faz terapia?

Grupo Reinserir

Tem regra? Não. 

A gente acha que deveria? Sim.

Trabalhar com cuidado demanda. Com cuidado em saúde, e ainda em saúde mental, demanda mesmo. 

Mas assim como falamos por aqui, em diferentes momentos, cada terapeuta tem seu tempo e espaço para entender a própria demanda pela psicoterapia. 

O velho ditado “casa de ferreiro, espeto de pau” não faz muito sentido pra a gente. Então, as estratégias de cuidado são as praticáveis por todos os trabalhadores: relações genuínas, rede de apoio, organização coletiva e psicoterapia também, se precisar. 

Vale dizer, que pra psicanálise - que a gente vive mencionando não por ser a única abordagem por aqui mas por ter uma contribuição histórica no que diz respeito à construção de uma perspectiva crítica para o sofrimento humano - a análise do analista é também parte indispensável de sua formação, assim como a supervisão, assim como o estudo técnico-teórico-filosófico. 

Ouvir e entender o sofrimento humano passa por ouvir e entender o próprio sofrimento, também, já que se entende por humano 😉

Para os terapeutas em formação (que são todos e quaisquer terapeutas 😜), entender o próprio processo de construção e como se manifestam suas emoções, é fundamental.

Sobre a imagem: “eus em mim” de @susanocorreia - ou, aqui, um terapeuta depois de um dia cheio.  

Você conhece as práticas sustentáveis da Clínica Reinserir?

Grupo Reinserir

Sustentabilidade e saúde mental tem tudo a ver! Um ambiente sustentável é fundamental para uma vida saudável. Por isto, a Clínica Reinserir se preocupa imensamente com as práticas sustentáveis dentro e fora do consultório. Para quem frequenta a Clínica não é novidade ser abordado com água, café e/ou chá em copo de vidro (exceto neste momento de pandemia, por segurança, optamos não utilizar tais copos). A ideia é que ao retornar com as atividades presenciais, os copos de vidro sejam substituídos por copos biodegradáveis (por conta do fluxo intenso de pacientes no espaço) com a sugestão de que os pacientes levem suas próprias garrafas e/ou canecas. O grupo também se preocupa com o descarte correto dos resíduos, utilizando lixeiras identificadas no consultório (vide imagem). Além disto, a decoração do Reinserir é mega sustentável: caixotes de madeira sendo utilizados como mesas de centro, artesanatos sustentáveis e muuuitas plantas espalhadas pelo consultório (muitas delas sendo presente dos pacientes). De fato, uma Clínica sustentável e que visa promover saúde! Que possamos cuidar do meio ambiente, de nós e do outro (mais ainda neste momento de pandemia). A equipe do Reinserir está a disposição para sanar dúvidas sobre a temática da sustentabilidade. Ah! temos parceria com uma Cooperativa de Materiais Recicláveis muito querida, a @coopercapsoficial!!! Eles também estão a disposição para contar sobre o trabalho dos cooperados e sua importância. Vamos junts?

Você já conhece as nossas cartilhas informativas?

Grupo Reinserir

É com muita alegria que viemos aqui contar para vocês que somos a primeira empresa no mercado a oferecer cartilhas para organizações como um todo, com o foco de disseminar informação acerca de temas voltados a saúde mental, integral e violências estruturais.

E como se deu a ideia das cartilhas?

Bem, como muitos de vocês sabem, também ofertamos serviços de palestras e consultorias empresariais, este ano em especial, fomos convidades por algumas empresas para discutir com seus funcionários temáticas específicas; entendendo a complexidade dos assuntos e o pouco tempo que temos para expô-los em uma palestra, ofertamos este material de apoio com a temática aprofundada de uma forma didática e ilustrativa. Além disto, é possível sempre revisitar este material quando dúvidas surgirem. É quase um livrinho de bolso :’)

Todas as cartilhas são de autoria própria do Grupo Reinserir Psicologia, na tentativa de plágio, seremos informades, então caso gostem do material, queiram se inspirar, troquem uma ideia antes com a gente, vai ser um prazer poder contribuir com novos projetos!

Neste primeiro momento, os temas das cartilhas estão sendo desenvolvidos a partir das demandas apresentadas pelos nossos clientes, mas pretendemos para o ano que vem, ampliar possibilidades. O que acham de uma cartilha focada em ansiedade?

A ideia das cartilhas é tão massa, que podemos até presentear quem gostamos com elas (:

Onde encontramos o material?

Ali no nosso linktr na bio e, em breve, em nosso site.

É gratuito?

Não. E os valores variam de acordo com o tempo que os nossos profissionais levaram para desenvolver o conteúdo, e de acordo com a temática também. Nada mais justo do que valorizar o trampo de quem está produzindo conteúdo de valor para a sociedade, né!?

A gente garante uma excelente leitura para vocês!

Você respeita o seu tempo terapêutico?

Grupo Reinserir

Desta vez, não estamos falando sobre respeitar seus limites e nem sobre o tempo para elaboração de demandas, embora tudo isto aí também seja importante :B

Estamos falando sobre os seus 50 minutos em terapia. Ou o tempo que você e sua terapeuta alinharam para o trabalho psíquico acontecer.

50 minutos de sessão, (in)felizmente não são 60 minutos de sessão.

Este pequeno espaço de tempo, caracterizado por 10 minutos, que às vezes é ultrapassado no processo terapêutico, precisa e deve ser respeitado, por todes.

É nesses 10 minutos entre uma sessão e outra, que pasme, a sua terapeuta vai ao banheiro, bebe água, lava a louça, arruma a cama, almoça e às vezes até tira um cochilo para revigorar e dar continuidade ao próximos atendimentos.

Costumamos falar com frequência por aqui, sobre humanizar os sujeitos, respeitar este tempo, sem dúvidas, faz parte deste movimento.

Respeite o seu tempo, do seu processo terapêutico e o da sua terapeuta.

Imagem: um sujeito bem equilibrado imagem: @susanocorreia

Você sabe a diferença entre terapia e terapêutico?

Grupo Reinserir

Segundo o dicionário, terapêutico é aquilo relacionado a terapia, uma ferramenta de “cura”, cuidado ou “tratamento”. Aqui, temos por terapia, a psicoterapia, que conta com um longo processo histórico de construções, desconstruções e reconstruções acerca do que é cuidar, do que é científico e do que é “curar”.

Mais que esclarecer o significado de algumas palavras, esse texto é um puxão de orelha, contra a banalização dos conceitos de terapia e terapêutico. Veja, tomar uma breja no Sucesso ’s, na Roosevelt ou em algum lugar jovem e famosinho aí da sua cidade, é mó legal. Mas não, não é uma terapia. A terapia é um ambiente seguro, adequado, com certo nível de embasamento técnico, usado para se observar, ouvir e compreender, de forma mais racional porém ainda afetiva. Falar que qualquer coisa é terapia é contribuir ainda mais para a precarização e desrespeito da atividade de trabalho de nós, trabalhadores da saúde mental. Existe um custo (e não é baixo) em se debruçar para compreender e lidar com o sofrimento humano.

Sobre a imagem: “homem protegido debaixo de um sorriso bobo” de @susanocorreia

“E desde quando terapeuta fica doente?”

Grupo Reinserir

“E desde quando terapeuta fica doente?” em tom de riso, foi o que recebi essa semana quando precisei desmarcar algumas sessões. Nesse caso, com carinho e acolhimento de quem também trilha o caminho da psicologia, mas nem sempre é assim.

É compreensível que por vezes, o desmarque de uma sessão que estava sendo esperada chegue com uma frustração incômoda, a cereja no bolo do dia que estava dando errado, em uma semana deprê, ou coisa do tipo, sei, já aconteceu comigo. 

Mas a gente precisa lembrar que, pra um terapeuta exercer sua atividade de trabalho de maneira humanizada, pra encarar os fenômenos trazidos de maneira não mecânica ou reducionista, ele precisa necessariamente ser humano. E isso nos faz perecíveis ao adoecimento.

Esse texto é um lembrete, cuidemo-nos. 

É claro que você não precisa se dispor a ir ao médico com sua terapeuta. Respeitar o limite produtivo de quem te lembra frequentemente de respeitar o seu, é cuidado. 

Sobre a imagem: “O marxismo dará saúde aos doentes” pintado em 1954 por Frida Kahlo. 

⅓ O que é ser bem tratade em uma consulta médica ou de terapia?

Grupo Reinserir

Algumas experiências recentes me lembraram que, por vezes, a normativa rígida, mecânica e violenta do modelo biomédico de saúde, não nos deixa ter parâmetro do que seria uma experiência de atendimento humanizado.

Como saber o que cabe a um bom atendimento se eu nunca tive um?!

Bom, bora lá pensar…

Indispensavelmente, é necessário se sentir uma pessoa. 

Uma pessoa, em um atendimento, tem voz, tem vontades, medos e tem sua perspectiva de si respeitada, não é diminuída ou atropelada pela aplicação de uma ‘técnica’ ou ‘protocolo’ de atendimento. 

Fez sentido? Semana que vem tem mais :)

⅔ O que é ser bem tratade em uma consulta médica ou de terapia?

Grupo Reinserir

Em uma clínica humanizada, suas especificidades são lidas e tratadas como diferenças legítimas entre os  sujeitos humanos. E não como um apanhado de coisas que te fazem ser um estranho, híbrido e pejorativamente disruptivo. Se um trabalhador da saúde não sabe manejar isso, provavelmente, existe uma falha no processo dele, ou da instituição a que responde, de entender o humano pra além das normatividades produtivas vigentes. 

De maneira simples, é compreender que as regras que norteiam nossas convivência social são, historicamente, inventadas.

Parece absurdo dizer isso? Veja, sociedades e comunidades são diferentes, em cada tempo e lugar. Não existe (ou não deveria) uma regra universal, um dogma, que deva enquadrar todos os humanos. 

Neste canto do planeta, fomos divididos entre homens e mulheres, que idealmente devem se relacionar monogamicamente com o gênero oposto, idealmente brancos. E vamos à igreja, sábado ou domingo. Quando ficamos doentes, somos avaliados e diagnosticados por um médico e tomamos um remédio que nos restabelece a homeostase. 

E quem foge às (tantas) regras?

Pasmem, nós, dissidentes, também somos humanos. E também podemos acessar direitos, entre eles, de um atendimento integral à saúde, um atendimento que corresponda às nossas necessidades e não agrida nossa existência buscando nos adaptar às regras.   

Imagem: “Esperando a primavera” de @susanocorreia