A gente se encontra na incoerência
Escrito por Psicóloga Maria Julia Viana da Silva CRP 06/159588
Publicado em 15 Jul, 2024
Tem uma coisa na temporalidade do amor romântico - e para além dele - que nos construiu e desejamos por muito tempo: a estabilidade do para sempre.
A surpresa da incoerência, da contradição é, por vezes, muito temida por nós. Como assim disse que gostava e não gosta mais? Pode o desejo mudar? Como querer que algo tão mutável quanto a vida nos ofereça algo diferente disso?
Encarar a possibilidade de mudança do desejo do outro pode nos despertar muitas inseguranças, afinal, o que faltou em mim que fez com que esse desejo não estivesse mais posto? Muitas vezes a mudança do desejo do outro é somente do outro mesmo. E isso não pode e nem deve definir o nosso valor no mundo.
E quando é a gente que muda? Será que sou uma fraude por não querer mais aquilo que já quis tanto?
Eita que esse é e já foi assunto de muitas conversas nos consultórios e nas mesas de bares rs.
Compreender e aceitar que mudamos e consequentemente as vontades mudam é entender que não racionalizamos, temos controle e nem acessamos completamente nem nossos próprios desejos. Ou como Freud diz “o Eu não é senhor da sua própria morada”.
É abrir caminho para que possamos nos encontrar em nossas contradições, nas nossas incertezas, nas incoerências. É poder ver beleza no que desvia. É poder amar e ser amado na dúvida.
Arte: @rabisclara