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Comer é essencial para nossa sobrevivência, mas é só isso?

Grupo Reinserir

É comum observar discursos aqui das redes sociais (corroborados e respaldados por profissionais, inclusive) falando sobre alimentação de uma forma simplista e culpabilizadora.

Falar sobre alimentação e sobre comportamento alimentar sem olhar para gênero, raça e classe além de ser desonesto, pode ser mais uma ferramenta de opressão aos corpos, principalmente corpos gordos. Comer é uma necessidade biológica, mas também é um ato social.

O que perdemos quando individualizamos o comer?
Quando dizemos para “controlar suas emoções”? E, de maneira genérica, distribuímos receitas e dietas? Perdemos algo caro para nós: a escuta. A possibilidade de entender a relação do sujeito com o comer. Perdemos muito.

E a consequência disso? Uma grande dose de culpa e de insatisfação, o que é muito útil para a indústria da individualização do sofrimento.
Antes de falar de “comer emocional” de uma forma patológica, que tal olharmos para as particularidades do comer.

Por que nos alimentamos do que nos alimentamos?
E as mulheres sobrecarregadas, comem o quê?
Vamos olhar para as horas sequestradas pelo transporte? Quem tem tempo de cozinhar a própria comida?
Quem tem tempo pra ouvir a própria fome?
Qual tipo de comida a classe trabalhadora tem acesso?
Por que há tanto estímulo para o consumo de ultraprocessados?

Nossa fome e nosso corpo podem ser sintoma sim, mas da nossa história, do contexto que vivemos. Mas esse não é necessariamente um problema individual, resolvido com “força de vontade”.
Responsabilizar as pessoas é não enxergar as consequências do nosso modo de produzir a vida.

Talvez, uma das formas de entendermos nossa fome é olhar para além do nosso garfo, do nosso prato. E olhar para tudo que contribui para nossa alimentação. Deixamos um convite para focar menos em controlar sua fome e o ato de comer. Um convite para compreender, problematizar e questionar a complexidade que envolve a nossa alimentação.

Bora lá?