E se ninguém nunca me amar?
Escrito por Psicóloga Maria Julia Viana da Silva CRP 06/159588
Publicado em 09 Apr, 2023
Ou se ninguém nunca mais me amar?
Esse pensamento já passou por você logo após um término de relacionamento? Ou quando deixou de ficar com aquele casinho de um tempo? Com mais uma frustração? Ou ao se deparar com seus amigos em relações?
Vamos entendendo esse medo não só como um medo de não se sentir desejade ou queride, mas ao não ter esse desejo correspondido, certo? Da reciprocidade?
Primeiro é importante assumir isso. Vivemos sobre as diversas narrativas de construir a auto-suficiência, por isso, é difícil conseguir acolher a vontade de sentir-se amade e amar alguém. Validar o seu sentir é o primeiro passo para torná-lo menos angustiante.
Depois, é atentar-se aos efeitos desse querer. Já se deparou, logo após uma frustração amorosa, se questionando o que de errado em você, qual sua característica que te afastou dessa relação?
Tem um conceito da psicanálise, de Freud, que nos ajuda a pensar isso. O conceito de Reversão, que é quando, no lugar eu dirigir o sentimento ao outro, eu coloco ele para mim. Ou seja, nesse momento da frustração, eu não dirijo a raiva/irritação para o outro, mas para mim. Me sinto culpade por ter insistido em mais uma relação ou por ter mandando muitas mensagens, etc. E, em certa medida, existe algum nível de bem-estar nesses pensamentos, na medida em que eu entendo que se existe algo de errado comigo, posso transformá-lo, corrigi-lo para sentir-se amade, já que o comportamento do outro não conseguimos transformar. Percebe como isso beira a punição? É quase como se você tivesse que se adaptar, se corrigir para ser queride. E as suas qualidades, que você, até então, se orgulhava, vão se tornando problemas. Viu só os efeitos danosos?
Por fim, é importante se permitir e sustentar o não ser amade por aquela pessoa, sem deixar que isso transforme quem você é. É ruim, é frustrante, gera irritação, mas é sobre a situação, é sobre a pessoa, não é sempre sobre você.
Imagem: Hady Boraey (Egito, 1984)