Ele não é louco, é representante da burguesia. Ele não é louco, é homem em uma sociedade machista.
Escrito por Psicóloga Maria Julia Viana da Silva CRP 06/159588
Publicado em 14 Jul, 2021
Apesar de não ser recente o debate sobre a patologização de fenômenos sociais, repetir essas frases se tornou quase um mantra. Lembra quando a gente papeou por aqui sobre diagnósticos e falamos sobre como ele é, por vezes, usado para camuflar problemas sociais? Se for uma doença, logo, é problema individual. Da pessoa. Ela resolve e nada precisa ser feito a nível coletivo sobre isso. Fim de papo. Isso nos afasta de pensar nas questões de produção e reprodução da vida que nos adoece.
Um homem que violenta uma mulher é “doente” “psicopata” “louco” e “não é um homem de verdade”. Quando na real ele está estabelecendo uma relação de poder comum no sistema patriarcal que estamos inseridos. Ele só é violento porque estamos sob uma estrutura social que permite que ele seja. E mais: que incentiva a reprodução desses comportamentos. Ou seja, está sendo um homem comum.
A gente pode passar horas conversando sobre a produção da patologização e a construção social que desenvolveu em nós noções equivocadas, violentas e pejorativas sobre a loucura. Nenhuma delas pode se referir ao projeto político genocida no Brasil. E muito menos sobre quaisquer violências de gênero.