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Entre o mundo (a violência) e eu

Grupo Reinserir

No livro “entre o mundo e eu” o escritor estadunidense Ta-Nehise Coates conta como a violência se construiu dentro do lares de pessoas negras que aprendiam durante a escravidão que o açoíde era forma de aprendizado, de correção e quando iam educar seus filhos usava também métodos que incluiam a violência fisíca. Se apropriaram de métodos violentos de seus opressores e os reproduziram em sua comunidade, com seus pares. Como falamos sobre ciclo de violência, estamos falando disso, de reproduzir coisas que aprendemos na nossa relação com o mundo e com as pessoas.

O que você aprendeu quando apanhava de seus pais? E o que você tenta ensinar para o seu filho quando bate nele? O que você aprendeu quando via seu pai sendo violento com sua mãe? E hoje o que você ensina quando é violento com outras mulheres? Já pensou sobre isso?

A violência tem efeitos diversos em nós e em como operamos no mundo. O ator conta nesse livro também como crescer na periferia cercado por violências fez com que ele aprendesse que precisava também responder dessa maneira para ter seu corpo preservado. O que Ta-Nehise nos mostra escrevendo essa carta para seu filho e contando o que é para ele ser um homem negro e periférico no mundo em que vive é que todo comportamento tem história. E precisamos nos apropriar dela. E isso se estende para outras formas de estar no mundo, para outros corpos.

Nem sempre a violência se reproduz na violência, mas pode estar também na sua dificuldade em expressar emoções, na baixa autoestima, no medo de se relacionar, etc.

Talvez romper com padrões violentos seja uma das nossas tarefas no mundo (inclusive na psicoterapia). Criar ferramentas para se colocar no mundo de maneira diferente do que nos foi ensinado, construir relações mais saudáveis, repensar outras formas de operar no mundo é romper com violências físicas e simbólicas que nos acompanham a gerações. É uma tarefa, mas uma tarefa possível.

Arte foi retirada da capa do livro O Avesso da Pele, do Jeferson Tenório.