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Ser da quebrada não é passe livre para ser machista

Grupo Reinserir

Quantas vezes nos deparamos com falas do tipo “lá na quebrada não existe isso” “isso não é preocupação para os trabalhadores da quebrada” ou aquele meme de um ônibus cheio seguido da frase “não se fala em outra coisa aqui”?
E o que esse tipo de coisa esconde?

Muitas vezes esse discurso é usado para justificar comportamentos/falas machistas ou até mesmo para desqualificar a importância de alguma temática. Não é incomum, principalmente homens cis, recusarem a se debruçar em algum assunto levado por um amigo, amiga, companheira ou companheiro usando essa “justificativa”.

Essa é uma questão complexa que não deve se esgotar aqui. É um chamado à reflexão, principalmente se você em algum momento se esbarrou nesse emaranhado.

Existem necessidades materiais postas, precisamos comer, dormir e trabalhar. Mas a gente quer e precisa de mais do que isso. E ao reproduzir esse pensamento coloca em dúvida, inclusive, a capacidade intelectual de nós, da classe trabalhadora. Nos reduzindo a uma certa bestialidade.

E isso não é algo novo, sabemos que nos colocou nesse lugar por séculos. Não somos só nossas necessidades básicas e de produção. A gente é, quer e precisa de mais.

Por mais que tenhamos avançado um pouco no que diz respeito ao acesso à informações, sabemos ainda das inúmeras limitações e dificuldades. Talvez faça mais sentido ser a pessoa que troca uma ideia naquela roda de amigos, que compartilha, que instrui, do que se ancorar nessa ideia para não se repensar, sabe? Então: não, nascer e crescer na periferia não é passe livre para não repensar seu machismo.

Arte: Edu Ribeiro