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"Você é o sonho dos seus ancestrais"

Grupo Reinserir

Sobre a cobrança de sucesso na perspectiva capitalista e o bem viver da população negra.

Fiquei surpresa ao ouvir mais de uma vez, que essa frase tão utilizada na retomada do sentindo de humanidade para os negros brasileiros, as vezes é entendida como uma cobrança para pessoas negras, que acreditam que ainda não se tornaram dignas de serem consideradas o sonho dos seus ancestrais, que abriram caminhos para as possíveis formas de vida hoje em dia.

Qual é a ideia que nós temos sobre nos tonarmos o sonho bem-sucedido? Queria propor uma reflexão sobre as armadilhas cotidianas que surgem no nosso trabalho, relações amorosas, expectativas familiares etc., do que seja o sucesso. Algumas ideias segue o princípio da vida no capitalismo, e quero esclarecer como isso não tem nada a ver com o se tornar o resultado dos processos ancestrais e sim sobre uma dimensão do racismo na dinâmica do capital e seus impactos psicossociais.

Para as pessoas negras e indígenas, a conexão com os ancestrais e a vida hoje é o que chamamos sobre o direito do bem-viver. O bem-viver diz sobre a possibilidade da humanização contra a tentativa racista de tornar os corpos negros em “coisas”; é sobre poder preservar as relações familiares (lê-se aqui não só família biológica) contra um passado em que a separação de africanos na escravização foi prática que impossibilitava a manutenção de vínculos afetivos; é sobre poder ver continuidade, futuro e não só a sobrevivência; é sobre enaltecer a coletividade, se reconhecer em alguém parecido contigo e ver beleza nisso; é sobre a solidariedade na luta conjunta diante das reivindicações de melhor estado de vida: saneamento básico, comida, mobilidade, etc.

Você é o sonho dos seus ancestrais, porque segundo o grupo Banto-Kongo “o nascimento de um ser é alvorada de um sol vivo” (livro “Filosofias Africanas” Nei Lopes) e a possibilidade de desenvolver potencialidades, está sempre quando você se aproxima um pouco mais das práticas do bem-viver.