Você não está louca! - porque alertar sobre relacionamentos abusivos nunca é demais
Escrito por Psicóloga Nárrina Gabrieli Ramos Pereira CRP 06/159448
Publicado em 26 Aug, 2020
Hegemonicamente criadas para encontrar o grande amor de sua vida, mulheres se tornam mulheres ensinadas a buscar cuidado e proteção, geralmente atribuídos a um parceiro ou parceira para a vida inteira, alguém em quem você pode confiar e se entregar de olhos fechados. Para as mulheres contemporâneas isso se dá também através do apaixonar-se perdidamente por alguém; quando a química bate, quando rola uma energia em comum, risadas, suspiros e desejos parecem recíprocos. Até a luta contra o capital pode ser a mesma. Acontece que, em algum lugar da rotina, em algum momento entre o ‘boa noite’ antes de dormir e o ‘bom dia’ ao acordar, surge uma lógica de prestação de contas, de corresponder à normalidade conhecida de casais que implica numa experiência quase simbiótica de existência, tornar-se um. Mas pra existir uma relação não é necessário que exista mais de uma pessoa???!? Nesse processo, o controle é normalizado, o ciúme se intensifica, as brigas surgem por motivos aparentemente cada vez mais banais. Investigam-se conversas privadas. Questionam-se likes em redes sociais. Deixa-se de sair, pois o outro não pode ou não quer. Por fim, deixa-se de viver a própria vida. Ao contestar tais comportamentos, as mulheres são comumente empurradas ao lugar da loucura; ‘isso é coisa da sua cabeça’, ‘fantasia sua’, ‘as outras pessoas não achariam isso normal’, ‘quando você faz terapia vc fica empoderada’, ‘essa terapia tá te deixando egoísta’ ou ‘o amor tudo sofre, tudo crê’. São muitas as falas comuns que perpetuam relações violentas. Se você tem se sentido confusa ou confuso com suas relações converse com alguém de confiança. Em caso de agressão, se proteja e procure ajuda. Sua terapeuta também pode ser rede de apoio neste momento. Fale. E se você sabe de alguém que enfrenta uma relação abusiva: META A COLHER.
*Relação abusiva é toda e qualquer interação que invada, agrida ou transgrida o seu ser, comum nas relações afetivas e sexuais mas acontece também em amizades e relações familiares.* Pra continuar essa reflexão, sugerimos a música “Triste, louca ou má” da banda Francisco El Hombre.